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Homenagem a Otávio Augusto Rossi Vieira

(“Bonita gravata, Fernandinho”)

 

 

Em 16 de fevereiro, às 8:30 horas, o Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo fará sessão solene denominando “Otávio Augusto Rossi Vieira” à biblioteca da entidade. Para quem não sabe, Otávio, falecido enquanto não era a hora, foi dos melhores criminalistas que o Estado de São Paulo teve. Conselheiro da Ordem dos Advogados Estadual, sua atividade não se limitou à defesa das prerrogativas da classe. Estendeu-se à comunidade, principalmente à carente, com atuação importante na recuperação, inclusive, de dependentes químicos desprovidos de meios adequados a tratamento. Otávio pertencia, dentro de tais contextos, a uma congregação oficiosa e anônima, composta inclusive por um ou outro dedicado membro do Poder Judiciário. Cuidava-se de auxílio praticado fora daquele período em que as luzes afastam as negruras da noite paulista, sabendo-se que os infelizes, os miseráveis, os desvalidos, os pobres, enfim, não costumam ter a vida muito iluminada. O escriba, enquanto talha o texto, se lembra de Victor Hugo. Seu velório foi frequentado por todos os pobres de Paris. Havia, segundo a história conta, mais de milhão de pessoas, a maioria atenta à obra magistral do grande poeta (“Os Miseráveis”). Os viciados em substâncias tais têm má sorte. Perambulam nas proximidades da “Sala São Paulo”, consagrada como das melhores casas de música clássica do mundo, realização, acredite-se, de Mário Covas, aquele que seria Presidente da República, se o destino não lhe houvesse tirado a vida. São coisas que acontecem. Aconteceram ao criminalista Otávio Augusto. Otávio amadureceu aqui, comigo, carregando consigo as qualidades do velho advogado e se defendendo dos defeitos, pois todos os têm. O moço deixou mulher e filha, Márcia e Maria Julia. Descendia de família ilustre. Morreu de repente. Extravagantemente, sabia que poderia partir a qualquer tempo, fosse enquanto praticando esportes (corria e nadava bem), ou mesmo durante o sono tranquilo. A segunda hipótese venceu.

A homenagem feita pelo Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo é justa e bem-vinda. O cronista já esteve lá, em passado distante, tomando assento junto a Odon Ramos Maranhão. Lá, menino ainda, conheceu Flamínio Fávero, entre outros. Sabe-se da importância que o Conselho Penitenciário tem no Estado de São Paulo, amenizando, sempre, o desespero dos presos paulistas.

Os seres humanos, curiosamente, nunca vão embora. Morrem mas são lembrados, nas sociedades, como se ainda vivos estivessem. Isso acontece muito entre aqueles que se dão ao estudo e ensino do Direito. Falam e escrevem sobre os mestres numa quase onipresença. Otávio Augusto Rossi Vieira é recordado assim, não só pela cultura mas, principalmente, pela coragem e determinação. De certa maneira, tinha aquele desassombro sempre presente na conduta dos criminalistas. Um dia, cruzando com servidor diferenciado, mas especialmente deseducado, num corredor do Tribunal de Justiça, Otávio parou, circunspecto, encarou o outro e disse, sorrindo: “- Bonita gravata, Fernandinho”. Fez aquilo no meio de outros tantos, todos com as vestes talares, inclusive o próprio. Depois foi embora, comigo ao lado, ambos guardando a custo a gargalhada para que não ecoasse nos vetustos gabinetes do Órgão Máximo da Justiça Paulista.

É isto. Vou lá, com certeza.

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