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O Elefante e a loja de cristais

                                                                                                                                                                                                                                                 Roberto Delmanto

Quando entramos em uma loja de cristais todo cuidado é pouco. Qualquer esbarrão ou descuido nosso pode causar grande prejuízo.

Assim é a diplomacia entre as nações, em que uma palavra mal empregada ou um gesto intempestivo é capaz de acarretar estragos nas relações bilaterais ou até internacionais.

Além do incremento do  comércio exterior e do sempre almejado respeito aos direitos humanos, o mais importante será sempre a preservação da paz . Pois, como já se disse, não há guerra boa nem paz ruim…

Nesse particular, a diplomacia brasileira é das mais respeitadas no mundo. Baseia-se no princípio da autodeterminação dos povos, ou seja, cada qual deve escolher o regime em que quer viver(capitalismo, comunismo- hoje quase inexistente-,monarquia, república, presidencialismo, parlamentarismo, com dezenas de partidos políticos como nós ou com apenas  um como a China). A regra é o não – intervencionismo, apenas pegando em armas para se defender.

Seguindo essa filosofia política, o Brasil só participou de duas guerras e sempre depois de ser atacado: a Guerra do Paraguai, durante o Império, e a 2º Guerra Mundial, por ocasião da República.

Não é por outra razão que, refletindo esse respeito internacional, cabe sempre ao nosso país, através de seu Presidente ou do Ministro das Relações Exteriores, abrir anualmente a Assembléia Geral das Nações Unidas.

No campo regional, o Brasil, com outros países sul-americanos, vem há anos tentando fortalecer e ampliar o Mercosul. Com efeito, se cada uma de nossas nações em desenvolvimento tem pouca força no diálogo com os grandes países do hesmifério norte ou da União Européia, é lógico que, juntas, teriam muito mais influência e poder para melhor negociar.

Não se ignora as dificuldades que o Mercosul tem enfrentado. Acostumados a agir por conta própria, ainda hesitamos em abrir mão de posições isoladas, por vezes com viés ideológico, para chegar a um consenso. Longe está, por exemplo, de termos uma moeda única ou uma verdadeira zona de livre comércio.

A presidência do Mercosul é rotativa, sucedendo-se os países a cada seis meses, por ordem alfabética. E eis que surge a época da Venezuela assumir o posto. Embora não seja um modelo de democracia, muito longe disso, não chega a ser uma Coréia do Norte ou, ainda, uma Cuba, que lentamente  começa a se democratizar.

Ao invés de aceitarem tal presidência, mesmo porque ela é temporária e as decisões a serem tomadas dependerão sempre da maioria dos componentes do  bloco, o Brasil, a Argentina e o Paraguai se opõem a que Venezuela ocupe a presidência, argumentando que ela não cumpriu todas as exigências estatutárias, embora outros países também não o tenham feito.

Propõem, então, uma presidência compartilhada, até que chegue a vez de outra nação assumí-la. Com isso, criou se um impasse, adiando tratados comerciais que, após anos de negociações, estavam em vias de ser assinados.

Cabe perguntar: a quem interessa o enfraquecimento do Mercosul? Enquanto isso, a diplomacia brasileira, rompendo com sua tradição histórica, se comporta como um elefante em uma loja de cristais…

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