Home » Crônicas Esparsas » Alberto Lopes Mendes Rollo morreu

Alberto Lopes Mendes Rollo morreu

Costumo dizer que sou um sobrevivente, pois os amigos passam e eu fico. Até quando não sei, mas fico. Não vou aos enterros e não compareço às cremações, a partir da morte de Celso Delmanto, muito chorada, certamente, pois trocávamos algumas confidências, todos os meses, no mesmo canto do restaurante Itamaraty em São Paulo, local onde muita crise política brasileira foi gerada ou debelada. Soube hoje, e só hoje, que outro irmãozinho partiu para o Walhala, lugar sagrado ligado à mitologia nórdica. Sempre penso – é dominante nas minhas obsessões – nos enterros gloriosos dos “Vikings”, não sepultamentos na expressão da palavra, mas o envio dos corpos dentro de uma barca flamejante, enviada para a linha do horizonte e desaparecendo aos poucos. É, quem sabe, imagem deixada pelas recordações da minha adolescência, enfrentada raivosamente enquanto eu lia tudo o que havia à frente, sem exceção de “Beau Geste” obra retratando irmãos que se haviam determinado a formalizar assim a submersão de um deles. Sinto-me, às vezes, como um avoengo, aquele velho ascendente meu, catalão pouco alfabetizado que marcava a carvão na parede do casebre o número dos familiares partidos para o outro mundo. A tristeza, certamente, vai aumentando com o tempo. Sabia que Alberto estava doente. Deu-me tal notícia um dos filhos à saída de um debate ou palestra do Juiz Sérgio Moro, lá no Jabaquara. Não me entendam mal. Lembro do Moro por causa de Alberto, não em razão do magistrado.  Acompanhei-o à distância como o fiz com José Eduardo Loureiro, Celso, Raimundo Pascoal Barbosa, Márcio, Bigi, Approbato, Prado Rossi, Baeta Neves, Hélio Bialski e tantos outros, não por ordem de chegada, nem de partida, mas entremeados numa pequena reunião, todos de mãos dadas, ponteando por lá Evaristo de Moraes Filho, Evandro Lins e Silva, Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, Otávio Augusto Rossi Vieira e entidades outras, aparecendo-me nos poucos sonhos que tenho. Recordo-me, por exemplo, de Cid Vieira de Souza e de Loureiro, um a me legar o filho, Cidinho, quando ascendeu ao Tribunal, outro aconselhado ardentemente por mim, enquanto o visitava no hospital durante uma crise, a sair dali e viajar bastante, sabendo-se que Loureiro, muito rico, trafegava por São Paulo montado num “Fusca” desalinhado. José Eduardo seguiu o conselho e correu mundo depois. Tocante a Alberto Lopes Mendes Rollo, dez anos mais moço que eu, posso dizer, com muita certeza, que o atravessei pela rua, quando ele ainda era menino, conhecendo-lhe o pai e o irmão mais velho, Álvaro, este sim meu colega de colégio marista. Depois disso, revi Alberto em São Paulo, advogado especializado em Justiça Eleitoral, um vencedor, santista honrado, reforçando a ideia de que os praianos nunca voltam vencidos às ondas do mar. Morrem aqui, na metrópole. Alberto Lopes Mendes Rollo preparou os filhos muito bem para a sucessão. Foi membro influente da O.A.B. paulista. Defendeu gente boa, sendo respeitadíssimo na profissão. Tinha gênio forte, sim, expressando otimamente sua ascendência portuguesa. Ficou doente e morreu, destino de todos nós, uns vagarosamente, outros depressa, alguns na cama, uns tantos com a beca a lhes servir de pano mortuário, sendo enterrados protegidos pela veste negra. Enfim, todos partem. Ficando velhos, o medo começa a rondar, aproximando-se aquela bruxa odiada, mas onipresente. Assim, vamos à missa com mais frequência, embora Chico Buarque afirme que todo mundo faz pecado quando sai da igreja. Numa daquelas cerimônias vespertinas, eu tive à frente, num banco de igreja, duas velhinhas. Uma sussurrava no ouvido da vizinha: “sermão chato, se eu morrer vou querer coisa melhor para mim!”. É assim a sensação de perenidade. Acreditamos na permanência perpétua.

Recado para Alberto Lopes Mendes Rollo: aguenta firme. Waldir Troncoso Peres está por aí, sempre pronto a ajudar. De repente, chego eu. Dou-me bem com Nossa Senhora. Conversaremos bastante.

Deixe um comentário, se quiser.

E