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A REVOLTA DOS OPRIMIDOS

                                                                                                         (Roberto Delmanto)

 

 

Três grupos foram historicamente oprimidos no Brasil: os negros, os homossexuais e as mulheres.

Nosso país foi, no mundo, o último a abolir a escravidão. Longa foi a luta dos abolicionistas como Joaquim Nabuco, Luiz Gama e Castro Alves. Os versos deste último em “O Navio Negreiro”, a meu ver o maior dos nossos épicos, tocou o coração dos seus conterrâneos e ainda ecoam em nossas consciências:

        Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro… ou se é verdade
       Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
  Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

                                                     —————————————————–

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Fôste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem rôto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

       Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!           

Mesmo após a abolição, alcançada graças também à pressão da Inglaterra, por um bom tempo os escravos continuaram a chegar aqui, clandestinamente.     No belo Porto de Galinhas, em Pernambuco, estas eram, na verdade, o codinome para os negros.

Até hoje, poucos dentre eles proporcionalmente ascendem à elite da sociedade.

Os homossexuais eram tratados como párias, renegados pelas próprias famílias e discriminados nas escolas e em locais de trabalho. Ainda atualmente sofrem disfarçado preconceito.

As mulheres só passaram a poder votar em 1934. No antigo Código Civil, as casadas, para uma série de atos jurídicos, precisavam de autorização dos maridos; as solteiras tinham de se casar virgens, sob  pena de eventual anulação do casamento.

Mesmo agora, trabalham mais que os homens e ganham menos; são vítimas  frequentes de abusos e assédios sexuais.

Do final do século passado para cá, esses três grupos de oprimidos se revoltaram, passando a pleitear o reconhecimento de sua igualdade e dignidade.

Em virtude da sua luta, diversas leis surgiram em seu favor. Os negros e seus descendentes dispõem atualmente de quotas sociais nas faculdades. A Constituição Federal considera o racismo crime inafiançável e imprescritível, e a injúria racial é punida de forma agravada  pelo Código Penal.

Os homossexuais, inclusive os transexuais, vêm obtendo sucessivas conquistas, não só dentro do funcionalismo público em geral, mas até nas Forças Armadas.

As mulheres solteiras não mais precisam se casar virgens, nem as casadas de autorização marital. O feminicídio, como modalidade mais grave do homicídio, passou a constar do Código Penal.

Muito porém há ainda de ser alcançado. Embora não sejamos um país racista como os Estados Unidos e a cor majoritária de nossa gente seja, na presente época, mais mulata de que negra ou branca, continuamos a ser machistas e preconceituosos.

É um problema cultural que só através de nossa tomada de consciência poderá continuar evoluindo na abençoada terra Brasil, até sermos todos verdadeiramente iguais.

Que os imortais versos do poeta sobre os negros, se estendam aos homossexuais e às mulheres, e não deixem de tocar nossos corações…

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