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DO PAÍS DO FUTURO AO PAÍS DO ÓDIO

(Roberto Delmanto)

Foi o escritor austríaco Stefan Zweig, refugiado e depois aqui radicado, que cunhou a famosa frase: Brasil, país do futuro.

Apesar de ironizada por muitos, continuo acreditando no nosso destino. Somos uma nação de dimensão continental, com incontáveis riquezas naturais, minerais, marítimas e fluviais, flora e fauna exuberantes, possuidora da maior parte da região amazônica – pulmão da terra, e com a maior reserva de água doce do mundo – tão escassa em outros lugares, sem vulcões, terremotos, maremotos ou furacões.

Um país que recebeu e recebe todos os tipos de imigrantes, onde árabes e judeus, inimigos seculares na Palestina, se tornam amigos, no qual vigora o Estado de Direito Democrático, o devido processo legal, a liberdade de se manifestar, se associar, de ir e vir. Que pode ser preconceituoso, mas não é racista.

O mais importante, entretanto, sempre foi a índole do nosso povo: bom, ordeiro, trabalhador, criativo, alegre, caloroso, solidário e compassivo, que encanta os estrangeiros que nos visitam. Isto, apesar da enorme disparidade social que nos assola, certamente o maior dos nossos males, gerador de tantos outros.

Eis que, a descoberta de uma corrupção político-empresarial, há muito desconfiada, aflora em dimensão nunca imaginada.

Alcança quase todos os partidos e grandes grupos empresariais, grupos estes que, na verdade, mandavam em governos estaduais e no governo federal, atuando também, com desenvoltura, no parlamento.

O escândalo da Petrobrás, entre outros, durante os governos petistas, provoca justa indignação e revolta, iniciando-se um clima de radicalismo e ódio jamais visto. Membros de uma mesma família não mais se falam e amigos de longa data rompem o relacionamento.

Das agressões verbais cada vez mais contundentes e impunes, praticadas e fomentadas em redes sociais, passou-se à agressão física, quando a caravana do ex-presidente Lula, que incluía jornalistas, percorrendo o Paraná, foi atingida por tiros.

Com o provável alijamento deste do próximo pleito presidencial pela Lei da Ficha Limpa – que, a meu ver, é inconstitucional por não exigir o trânsito em julgado da decisão condenatória de segundo grau, violando a cláusula pétreada presunção de inocência – desponta nas pesquisas um candidato de extrema direita, único dos concorrentes a não condenar o atentado que, na verdade, foi contra a democracia.

Do país do futuro que sonhamos, passamos a ser um país de ódio cada vez mais crescente que, a meu ver, é a pior consequência da crise moral e ética que atravessamos.

Que a índole pacífica do povo brasileiro volte a predominar e, nas eleições que se aproximam, os grandes temas que nos afligem ocupem  debates democráticos e elevados.

E que Deus, que – estou certo – continua a ser brasileiro, nos ilumine…

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