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LAISSEZ FAIRE, LAISSEZ PASSER, LE MONDE VA DE LUI MÊME

Roberto Delmanto

 

Em tradução livre: “deixa fazer, deixa passar, o mundo vai por si mesmo”. Esse era o lema do antigo liberalismo, antes do surgimento do socialismo e da moderna democracia social, esta hoje presente na maior parte das nações civilizadas.

No Brasil, com o fracasso da esquerda, que após um inicio de sucesso em favor dos menos favorecidos, perdeu-se na corrupção e no descontrole econômico-financeiro, a direita voltou e, com ela, infelizmente, o lema do passado.

Os sindicatos foram enfraquecidos com a perda da contribuição anual obrigatória de um único dia de trabalho, da qual nenhum sindicalizado jamais reclamara; o acesso dos trabalhadores à Justiça foi dificultado pelo ônus acarretado com a eventual perda da ação; empresas estatais começaram a ser vendidas, ou se pretende venham a sê-las, independente do preço e de serem estratégicas; e, outras, mistas, passaram a ser administradas como se privadas fossem, ou pior ainda.

Exemplo maior foi o da Petrobrás. No afã de recuperá-la dos enormes prejuízos sofridos com os desmandos e os subsídios dados por demasiado tempo aos combustíveis, e ainda visando buscar recursos para suportar as indenizações que deverá pagar, principalmente no exterior, passou-se a acompanhar a variação internacional do preço do petróleo.

Com os aumentos recentes do barril, os preços começaram a ser repassados ao consumidor semanalmente e, depois, diariamente, até por dias seguidos. Não conheço nenhuma empresa privada que, trabalhando com produtos importados, aja dessa forma inconsequente e suicida.

O preço do diesel chegou, então, a níveis insuportáveis, principalmente para os caminhoneiros autônomos, a quem cabe um terço do transporte rodoviário. Ao contratar um frete no Rio Grande do Sul para levá-lo até o Rio de Janeiro, depois de abastecer seu caminhão por um preço, ao passar por Santa Catarina, Paraná e São Paulo, o combustível aumentava sucessivamente, acarretando grande prejuízo.

Uma greve prenunciada estourou, paralisando o país por inteiro. Embora constitucionalmente garantida, os abusos não o são. E estes ocorreram, em larga escala, levando à obstrução da maioria das nossas estradas e impedindo o abastecimento das cidades, inclusive de alimentos e serviços essenciais.

As autoridades federais demoraram a agir para baixar um decreto de garantia da lei e da ordem, previsto na Magna Carta, permitindo o desbloqueio, se necessário à força, das rodovias. Recebeu o apoio do STF, mas as consequências para a nação, a essa altura, já tinha sido terríveis.

O Governo, por ser o maior acionista da Petrobrás, não pode se comportar como qualquer acionista, visando apenas, e antes de tudo, o lucro. Há de ter responsabilidade social, pois a política por ela adotada é seguida pelas empresas estrangeiras, atingindo todo o transporte sobre rodas, responsável por 60% da movimentação de cargas no país, e, em consequência, nossa sofrida população.

Que o lamentável episódio a que assistimos, perplexos, a nível nacional, nos sirva de reflexão e nos livre de voltar ao triste passado do “laissez faire“, que tanta injustiça causou.

Para o escritor Fausto Fawcett, “O Brasil é um abismo que nunca chega porque sempre oferece vertigens para os habitantes” (Serafina, revista da Folha, junho/julho 18, p. 58).

Espero em Deus – brasileiro, como sempre acreditamos – que o delicado momento atual não nos leve ao abismo institucional, mas seja apenas mais uma vertigem…

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