Home » No fórum criminal central de são Paulo. A cena que Debret não retratou

No fórum criminal central de são Paulo. A cena que Debret não retratou

Roberto Delmanto

Há poucos meses, presenciei, no Fórum Criminal Central de São Paulo, uma cena vergonhosa que jamais havia visto em cinco décadas de advocacia criminal.

Entre tantas glórias de sua existência, o Brasil possui uma mácula indelével: a escravidão.

Foi o último país do mundo a abolí-la. Mesmo após a proibição do tráfico de escravos, eles continuaram a chegar clandestinamente à nossa costa, inclusive naquele que é hoje um dos cartões postais de Pernambuco: Porto de Galinhas, onde a referência a tais aves, na verdade, significava seres humanos…

Um dos mais importantes retratistas daquele triste período foi o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que integrou a Missão Artística Francesa em 1817.

Seus desenhos mostram a desumanidade praticada contra os escravos: sendo açoitados amarrados ao tronco em praça pública, ou, nesta, sentados no chão com braços e pernas presos a pesadas estruturas de madeira; com armações desse material ou de ferro em torno do pescoço, ou até rodeando toda a cabeça para os “fujões” recapturados…

Há poucos meses, presenciei, no Fórum Criminal Central de São Paulo, uma cena vergonhosa que jamais havia visto em cinco décadas de advocacia criminal: três presos, recém-saídos de uma audiência, ladeados por policiais militares, eram conduzidos pelos corredores.

O braço direito do terceiro passava pelo ombro direito do segundo, sendo algemado à mão esquerda deste, junto ao seu peito; o braço direito do segundo, por sua vez, passava pelo ombro direito do primeiro, sendo algemado à mão esquerda deste na altura do peito.

E, assim, entortados e cambaleantes, seguiam para a carceragem, em vergonhosa marcha. Isto em pleno século XXI, no maior Fórum Criminal da maior cidade brasileira…

Levei ao conhecimento da Associação dos Advogados de São Paulo e da Seccional da OAB o que, lamentavelmente, vem ocorrendo, e estou certo de que ambas solicitarão ao Tribunal de Justiça urgentes providências.

Mas não posso deixar de compartilhar minha indignação com os colegas criminalistas, juízes e promotores.

Afinal, se essa abjeta cena ocorresse durante a escravidão, Debret certamente não teria deixado de retratá-la…

 

Deixe um comentário, se quiser.

E