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CHEGA DE INTERMEDIÁRIOS

 

(Roberto Delmanto)

 

Durante sua campanha à Presidência da República, Juscelino Kubitschek pregou um total alinhamento com os Estados Unidos.

Seus opositores cunharam, então, a frase: “Chega de intermediários, para Presidência Lincoln Gordon” (apud Roberto Teixeira da Costa, “Relação Brasil x EUA”, Estado, 27.12.18, p. A2).

Gordon era, à época, o embaixador norte-americano em nosso país.

Durante o governo de Juscelino, a prometida aproximação incondicional não se concretizou, tendo havido não poucos atritos entre as duas nações. Mas a frase entrou para o anedotário político.

Lincoln Gordon continuava embaixador em 1964, quando teve participação decisiva no Golpe Militar que nos custou 21 anos de ditadura, com centenas de mortes, desaparecimentos e torturas, este o mais grave crime contra os direitos humanos.

Sob a presidência de Castello Branco, primeiro dos generais a ocupar o posto, foi atribuída a Juracy Magalhães, Ministro das Relações Exteriores e ex-Governador da Bahia, outra hilária frase: “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil” (apud mesmo artigo).

Por ocasião do recente pleito, Jair Bolsonaro preconizou uma mudança radical em nossa política externa: completo alinhamento com os Estados Unidos, cujo presidente é por ele considerado o maior líder mundial da atualidade, a ser imitado; mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, o que, até hoje, só dois países o fizeram: os próprios Estados Unidos e a pequena Guatemala, desrespeitando, assim, histórica decisão da ONU e rompendo com a equidistância que mantínhamos na Palestina; acusando a China, maior importador dos produtos brasileiros e grande investidor em nosso país, de estar querendo “comprá-lo”; desconvidando para sua posse vizinhos como a Venezuela, com quem temos extensa fronteira, Cuba e Nicarágua, e abrindo mão, com isso, do importante papel diplomático que deveríamos ter na América Latina.

Espero que, como ocorreu durante o mandato de Juscelino, tal alteração em nossa política externa não se concretize, pois, afinal, o que é bom para os Estados Unidos nem sempre será para nós.

Mas, parafraseando a frase da oposição durante sua campanha à presidência, poderíamos dizer: “Em 2022, chega de intermediários: para presidente Donald Trump e, para vice, Benyamin Netanyahu…”.

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