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(Una frase maledetta)

(Paulo Sérgio Leite Fernandes)

O Presidente da República precisaria, em certos aspectos, inspirar-se em Jânio da Silva Quadros. Este, nos piores momentos da vida, continuava professor de português. Afirma-se que Jânio é autor da conjugação que ficou famosa: “- Fi-lo porque qui-lo”. Jânio negava, com razão, porque, no máximo, teria dito: “Fi-lo porque o quis”. De qualquer forma, o português é uma língua riquíssima, permitindo aos praticantes muito boas opções. Assim, quando Bolsonaro afirmou “democracia depende de militares” deu margem a algumas opções extravagantes.  Por exemplo: Se os militares não a quiserem, o Brasil não a tem”. Ou então: “- Vocês só a têm porque os militares deixam”. Ou, por fim: “-Cuidado, porque eles podem deixar de querer”. No fim das contas, os italianos chamariam o texto usado pelo Presidente de “Una frase maledetta”.  Em português: “Uma frase maldita”. Ou então: “- Uma frase mau dita”. Ou então, para encerrar: “- Uma frase mal dita”. Já se vê que o Presidente da República precisa ter, ao lado, sempre, um bom escritor fantasma, que o ensine a dizer os textos com bastante precisão, até porque pode, eventualmente, trair-se no improviso. Há no Brasil intérpretes vigilantes do subconsciente das pessoas. Alguns deles podem estar sofismando, ou perscrutando, na Presidência da República, o repositório jazendo em torno dos múltiplos militares, de primeiro e segundo graus, ocupando posições importantes na Administração Pública. Jânio Quadros, se vivo estivesse, comentaria: “-Disse-o porque o quis”…

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