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A SÍNDROME DE JÂNIO QUADROS

(Roberto Delmanto)

 

Em 1962, eu tinha apenas 17 anos e, com essa idade, naquela época não podia votar. Mas acompanhei com entusiasmo a campanha de Jânio Quadros à Presidência da República. Ex-prefeito de São Paulo e ex-governador desse Estado, seu símbolo era a vassourinha, através da qual pretendia varrer a corrupção do Governo de Juscelino, embora a história tenha feito justiça a este, pois, além da visão de estadista e de seu comportamento democrático, nada se descobriu que atingisse sua honorabilidade.

Eleito com votação recorde e amplo apoio popular, mas tendo um Congresso em que era minoritário, com sua índole autoritária Jânio logo se viu em dificuldades para governar. Em apenas nove meses de mandato, sua atuação limitou-se a assuntos menores, como a proibição de brigas de galos e do uso de biquíni em concursos de misses.

Incapaz de se relacionar democraticamente com o Parlamento, tentou dar um golpe de Estado. Para tanto, convocou João Goulart, seu vice e adversário político, cujo esquerdismo não era bem visto pelos militares, para uma inédita missão diplomática: ir à China comunista, com a qual não tínhamos então sequer relações comerciais, para iniciar negociações.

Quando Jango – como era chamado – estava na China, Jânio renunciou dizendo ser vítima de “forças ocultas”, jamais explicitadas. Estava certo de que sua renúncia não seria aceita pelo receio da posse de Goulart e que, com apoio militar e do povo, retornaria ao Governo, desta vez não democraticamente.

Para sua decepção, isto não ocorreu.

Os militares impuseram, para que Jango assumisse, um fictício parlamentarismo que pouco durou, voltando-se em curto tempo, através de um plebiscito, para o presidencialismo.

Este, envolto em sucessivas crises, desencadeou na ditadura militar que durou 21 longos anos, com enorme restrição às liberdades públicas, mortes, desaparecimento de pessoas e torturas, este o mais hediondo dos crimes contra os direitos humanos.

Todos conhecem a chamada síndrome de Estocolmo, comportamento que tem se repetido, na qual pessoas sequestradas acabam por desenvolver relações afetivas com seus sequestradores.

No Brasil, corremos hoje o risco de ter uma síndrome de Jânio Quadros, com a repetição daqueles lamentáveis episódios políticos e suas nefastas consequências.

Eleito com grande votação e amplo apoio popular, Bolsonaro centralizou sua campanha no combate à corrupção e à por ele chamada de velha política. De estilo autoritário, não tem sabido dialogar com o Congresso, embora este tenha sido muito renovado, partindo para o antagonismo e o confronto e só cuidando de assuntos menores, muitos pelo twitter.

Há poucos dias, endossou e divulgou email em que seu autor dizia ser o Brasil ingovernável e pedindo apoio popular para reverter a situação. Através das mídias sociais, acumulam-se ataques virulentos de seus seguidores ao Congresso e ao Judiciário.

Estaremos diante da repetição da síndrome de Jânio Quadros?

Espero sinceramente que não, mas acho que já vi esse filme antes…

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