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O CHICANEIRO

(Roberto Delmanto)

 

O advogado era o protótipo do mau profissional: desonesto com os próprios clientes, desrespeitoso com a parte contrária, promotores e juízes, antiético e sem qualquer moral, praticando infindáveis chicanas, mas alcançando relativo sucesso graças à sua esperteza.

Quando morreu, quis entrar no Paraíso, porém São Pedro barrou-o na hora em virtude dos crimes que cometera em vida.

O advogado protestou, indagando-lhe se lá não havia o devido processo legal, como no Brasil, país em que vivera. Exigiu que fosse instaurado um inquérito policial.

São Pedro cedeu à lábia do advogado, porém foi muito difícil achar no céu um investigador, um escrivão e, principalmente, um delegado de polícia. Encontrados estes após longa busca, foi instaurado um inquérito, no qual restou evidenciada a culpa do bacharel.

Concluída a investigação, era necessário fosse dada “vista” a um promotor para que formasse sua opinio delicti, pedindo o arquivamento, requerendo novas diligências ou oferecendo denúncia.

São Pedro, após muito procurar, disse ao advogado que, naquele momento, não havia encontrado nenhum representante do M. Público.

Pediu então ao advogado que entrasse e aguardasse a chegada de um promotor. Como nenhum chegou até hoje, faz mais de cinquenta anos que o advogado continua no Paraíso…

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