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 O DIAGNÓSTICO

(Roberto Delmanto)

            O poder de diagnóstico tanto para médicos quanto para advogados é um dom que alguns profissionais possuem mais do que outros.

            Atualmente, os médicos pouco tocam em nosso corpo ao nos examinar. É a escola americana, hoje predominante, que se preocupa com possibilidade de erro médico ou de acusação de abuso sexual, preferindo solicitar um grande número de exames laboratoriais, alguns deles invasivos.

            No passado, nossos médicos seguiam a escola europeia, que optava pelo exame físico detalhado do paciente, limitando-se a pedir exames quando tivessem alguma dúvida.

            Era o caso do grande endocrinologista Atílio Zelante Flosi, que me atendeu na juventude. Completamente despido, deitado na mesa, era examinado pormenorizadamente primeiro de frente e depois de costas, sempre na presença de um familiar.

            Tanto hoje quanto outrora, o poder de diagnóstico do médico continua, entretanto, de suma importância.

            Lembro-me de Aleixo Delmanto, irmão mais velho de meu pai, formado na Itália pela Faculdade de Medicina de Parma. Especializando-se em radiologia, regressou a Botucatu, sua cidade natal, no interior de São Paulo. Seu diagnóstico ganhou fama em todo o Estado.

            Ao encontrar um amigo ou conhecido na rua, só pelos olhos dele percebia que não estava bem, pedindo que fosse ao seu consultório no dia seguinte. Quando encaminhava um paciente para a Capital, sabia-se que o caso era grave.

            Contam que, certa vez, atendeu a um importante industrial, o qual lhe contou que há mais de um ano sentia dores no estômago, mas não procurara um médico. Aleixo, muito humano, mas também muito sincero, depois de examiná-lo, disse que havia duas hipóteses: se fosse uma gastrite, em três meses o curaria; mas se fosse um câncer adiantado, a situação seria bem complicada. O paciente desmaiou. Mais tarde, confirmada a gastrite, ele rapidamente se recuperou.

            Para nós, advogados, o diagnóstico é também de suma importância. Quando  procurados por um cliente, cabe-nos avaliar sua pretensão à luz do direito aplicável, a fim de indicarmos o melhor caminho a ser trilhado. Daí, dizer-se que “o advogado é o primeiro juiz da causa”.

            Na área criminal, principalmente quando na defesa, nosso diagnóstico torna-se ainda mais importante.

            Um cliente que nos procura, por exemplo, está intimado para depor em uma delegacia na semana seguinte. Se mal aconselhado, a consequência será fatal para sua sorte, pois não poderá, depois disso, optar por outra versão.

            O que está em jogo não é mais um valor econômico, embora este possa representar tudo que uma pessoa ou família possui, tudo de que ela depende.

            O que está em jogo é a liberdade, sobre a qual um grande criminalista do passado, Américo Marco Antonio, contemporâneo de meu pai Dante, em inspirada frase, disse: “liberdade, esse bem maior, tudo merece, tudo desculpa”…

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