A RUPTURA DE UM PAÍS
(Roberto Delmanto)
Entre as maiores tragédias que podem recair sobre uma nação, além de epidemias que ao atingirem inúmeras e distantes regiões da terra chegam, por vezes, a se transformar em pandemias, eu destacaria três:
A primeira, é sua ocupação por um país estrangeiro. Foi o que aconteceu na França ocupada pela Alemanha nazista durante a 2ª Guerra Mundial ou, após o fim desta, com os países do leste europeu submetidos à dominação da antiga União Soviética.
A segunda, é a divisão de seu território, como sucedeu com a Alemanha depois do final da mesma guerra, separada entre os lados ocidental e oriental até a queda do muro de Berlim. Ou com a Coréia, há décadas dividida entre o Norte e o Sul, com familiares que jamais voltaram a se encontrar.
A divisão de um país resulta em geral de uma guerra. Como disse Benjamin Franklin, um dos fundadores da nação norte-americana, não existe paz ruim nem guerra boa. Mas a divisão pode ser causada, também, por conflitos regionais não solucionados, como o que ameaça separar a Catalunha da Espanha.
A terceira, é a ruptura interna de um país, através da radicalização política, do ódio e da intolerância entre as pessoas, como, já há algum tempo, vem ocorrendo no Brasil. Ruptura essa que tem afastado, de forma definitiva, parentes e amigos de longa data.
Ao contrário do que alguns pensam, acredito que continuam a existir diversas posições ideológicas na política, compreendendo a direita, a centro-direita, a de centro, a centro-esquerda e a esquerda.
Todas são naturais em uma democracia, devendo-se mútuo respeito e diálogo construtivo. Assim como são naturais em um governo a oposição e a situação, não podendo a primeira ser radical nem a segunda, intolerante. Quem perdeu uma eleição deve esperar a próxima para tentar assumir ou reassumir o comando do Estado.
Na imperdível série “The Crown”, da Netflix, há um episódio emblemático. Sendo o regime da Inglaterra parlamentarista, em determinada ocasião o Partido Conservador é derrotado pelo Partido Trabalhista, assumindo como primeiro-ministro Harold Wilson. Durante sua gestão, o país atravessa graves problemas econômicos, financeiros e sociais, aparentemente insuperáveis.
Um nobre altamente conceituado, parente da família real, juntamente com alguns banqueiros proeminentes e grandes empresários, articula um golpe de Estado. Mas, para tanto, reconhecem ser imprescindível o apoio da rainha, através do que consideram ser uma “brecha” constitucional.
Consultada pelo parente nobre, Elizabeth II, ainda jovem, repele com firmeza a pretensão golpista, dizendo que a vontade popular deve sempre ser respeitada e que cabe aos conservadores aguardar o próximo pleito eleitoral.
Lição sábia que democracias mais novas como a nossa devem anotar, refletir e absorver.
Mas, para tanto, é preciso que comecemos a ser mais tolerantes com aqueles que de nós divergem, saber ouví-los, respeitar opiniões diferentes da nossa e não ter receio de mudá-la quando nos convencermos de que estamos equivocados.
Como disse Aristóteles, secundado pelo atual Dalai Lama, devemos evitar os extremos e buscar o caminho do meio.
No belo filme “Adoráveis Mulheres”, indicado ao último Oscar, quando duas de suas filhas se desentendem e rompem a amizade, a mãe lhes diz que a vida é muito curta para continuarem brigadas, obtendo sua reconciliação.