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O DECLIVE DA CURVA

                                                                                                       Roberto Delmanto

 

            Diante da pandemia do coronavírus, trava-se, no Brasil, a seguinte discussão: o isolamento social deve ser horizontal, ou seja, total, liberando-se apenas os serviços essenciais; ou deve ser vertical, devendo ser isolados somente aqueles com maior risco, vale dizer, os que têm 60 anos ou mais e os doentes crônicos, permitindo-se aos outros voltar à normalidade.

            O isolamento horizontal, recomendado pela OMS- Organização Mundial da Saúde e apoiado, entre nós, pela maior parte dos governos estaduais, baseia-se na opinião da imensa maioria dos cientistas brasileiros e estrangeiros, e vem sendo adotado pela quase unanimidade dos países afetados.

            O isolamento vertical, por sua vez, é endossado entre nós pelo presidente Bolsonaro e, ao que me consta, por um médico do Hospital das Clínicas de São Paulo, de descendência oriental, a quem assisti na televisão. Desconheço seja defendido por algum cientista nacional ou estrangeiro. No exterior, um ou outro país o adota parcialmente.

            Um ponto me parece, todavia, certo: mais cedo ou mais tarde, o coronavírus atingirá praticamente toda a população brasileira. O número de contaminados, hoje, é bem maior do que tem sido contabilizado, pois não leva em conta os assintomáticos e os com sintomas leves, tratados em casa.

            Isso porque, pela falta de aparelhos de teste, a eles são submetidos apenas os internados. Quanto ao número de mortes, parece não haver dúvida, sendo o que vem sendo divulgado.

            O problema maior é o despreparo, não só de nosso país como dos demais, para atender em hospitais todos os enfermos graves. Procura-se, aqui e em todo o mundo, aumentar rapidamente os leitos de UTI, o número de respiradores e máscaras, bem como proteger os médicos e enfermeiros que estão na linha de frente.

            Se adotado o isolamento vertical, o crescimento dos doentes graves que necessitam de internação será imediato e exponencial, levando à falência o atendimento hospitalar de urgência, que já está no seu limite.

            O isolamento horizontal, a seu turno, baseia-se na curva que o vírus faz: crescente em um primeiro momento, até atingir o pico; daí, passa a sofrer um achatamento, ficando algum tempo nesse patamar; ao final, começa a descer. É o que aconteceu na China, que obteve sucesso com a adoção desse tipo de isolamento.

            Para os que o defendem, só a partir do início do declive da curva é que a atividade econômica começaria a ser liberada, voltando todos às atividades normais.

            Assim, paradoxalmente, com o isolamento horizontal a crise duraria mais, garantindo-se, porém, a preservação da capacidade hospitalar e a possibilidade de maior e melhor atendimento, salvando mais vidas.

            Já com o isolamento vertical, o vírus atingiria o pico de forma muito rápida, com um número enorme de doentes graves precisando de internação ao mesmo tempo, o que levaria ao colapso daquele atendimento e, certamente, a um número muito maior de mortes.

            Enquanto esperamos o início do declive da curva, cabe, principalmente ao governo federal, que dispõe de cerca de 340 bilhões de dólares em reservas cambiais e é o único que pode emitir moeda, mas também aos governos estaduais e municipais, e à elite social de nosso país, “segurar” até lá a economia e ajudar, de todas as formas possíveis, os mais pobres e atingidos…

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