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HERÓI X MITO

Roberto Delmanto

 

O inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal para apurar as denúncias feitas por Sérgio Fernando Moro contra o Presidente Jair Messias Bolsonaro, quando o ex-Ministro da Justiça pediu demissão, divide a direita brasileira.

A esquerda, cujos últimos governos mergulharam na corrupção e no descalabro administrativo, já se encontrava dividida na última eleição que, na onda anti-PT, levou à presidência o antigo e apagado Deputado Federal Bolsonaro. E ela continua dividida até hoje, sem conseguir se reaglutinar e traçar um novo rumo.

Agora, é a vez da divisão da direita, no embate jurídico-político entre seus dois maiores representantes.

De um lado, Moro, considerado um “herói” por sua atuação como Juiz Federal em Curitiba, quando condenou a severas penas grandes empresários e importantes políticos, alcançando notoriedade internacional.

Do outro, Bolsonaro, chamado de “mito” por seus apoiadores, em razão da promessa de combate à “velha política” e de renovação desta, incluindo, como Moro, a luta contra a corrupção.

O embate entre ambos deverá ser fratricida e de consequências imprevisíveis, no momento em que vivemos o pesadelo maior da pandemia da Covid-19.

Na minha opinião, entretanto, Moro não é herói, nem Bolsonaro, mito.

O ex-juiz, cujas arbitrariedades já eram conhecidas dos criminalistas que atuaram em processos por ele presididos, passou a se desmoralizar quando o site Interceptrevelou seu conluio com Procuradores da República, traçando planos, discutindo estratégias e sugerindo a produção de provas que levassem à condenação dos acusados.

Com isso, desrespeitou um dos mais sagrados deveres que se impõe a um magistrado: a imparcialidade.

O atual Presidente, cujo despreparo para a função ninguém ignorava, por sua vez, passou a se desmoralizar pela demonstração de seu desprezo às instituições democráticas, com contínuos ataques ao Legislativo, ao Judiciário- inclusive à sua mais alta Corte, o Supremo-, à Ordem dos Advogados e à Imprensa, culminando com as recentes participações em atos públicos contra a democracia. E, ainda, com a “sabotagem” às recomendações da Organização Mundial da Saúde- OMS- no combate ao coronavirus, levando os índices de contaminados e mortos a níveis alarmantes, já preocupando nossos vizinhos.

A respeito de Moro e Bolsonaro, lembrei-me dos versos de Machado de Assis:

                        “Sem lança, não reconheço Quixote.

                         Sem espada é apócrifo um Rodrigo.

                         Herói (e eu acrescentaria, mito),

                        Que às regras clássicas escapa,

                         Pode não ser herói (ou mito)

                        Mas tem a capa”.

Acredito que o embate entre ambos no inquérito do Supremo terminará em empate técnico, sem nocaute, mas com os dois contendores mostrando grandes ferimentos morais e políticos, possivelmente indeléveis.

Se isso acontecer, pelo menos o Brasil sairá vitorioso, pois não precisamos de radicalismos, nem de falsos heróis ou falsos mitos, abrindo-se para nosso futuro o ideal preconizado por Aristóteles e pelo atual Dalai Lama: o caminho do meio…

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