Antonio Carlos Malheiros morreu

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Hoje, às 18:30 horas, presencialmente e via internet, haverá missa de 7º dia pela alma de Antonio Carlos Malheiros, muito amigo nosso, advogado militante e depois desembargador pelo 5º Constitucional no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Velho frequentador da Seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil, este advogado esteve entranhado repetidamente no Conselho Seccional, sendo responsável, então, por participação em muitas indicações de colegas a preenchimento de vagas naquele foro. Se algumas delas foram ocupadas com entusiasmo, aquela correspondente a Antonio Carlos foi a mais caprichada, não só pela cultura jurídica, mas por qualidades outras que fizeram de Malheiros magistrado especialmente estimado, no Tribunal e na guilda. Antonio Carlos Malheiros tinha um jeito todo especial de chegança, um abraço comovente, mesmo quando nós nos  tivéssemos  encontrado dois ou três dias antes. Era calmo, sempre com muita doçura, atraindo pela sinceridade e espontaneidade do olhar. Malheiros, além de magistrado, tinha atividades na comunidade externa, participando de centro de assistência a desvalidos, fazendo aquilo nas horas vagas que, sabe-se muito bem, eram poucas, valorizando-se no seu cansaço.

Este antigo criminalista sustentou uma só vez na Câmara integrada por Antonio Carlos. Eram amigos, sim, mas o voto contrário de Malheiros veio quase como um presente de pureza na votação, em demonstração de que o Direito precisava ser proclamado acima de tudo, confirmando-se então princípios assentados nas tertúlias que tínhamos.

O Paulo Sérgio é um dos mais antigos criminalistas de São Paulo. Dir-se-ia um sobrevivente, cumprindo-lhe, nas circunstâncias, a injunção sacrificada de dizer em sussurro, na comunhão, as últimas orações de encaminhamento de companheiros. Aquilo é obrigação à qual não nos acostumamos nunca, porque temos em alguma parte da memória, muito bem fixadas, as imagens daqueles outros, jovens no começo, amadurecendo aos poucos conosco, superando juntos, de mãos dadas, problemas existenciais variados e, no fim, provocando prece emocionada, católicos apostólicos, batizados e crismados, alguns tomando a hóstia consagrada no encerramento de cerimônias iguais. Somos, os remanescentes, testemunhas vivas disso tudo. Vão-se uns e outros, mas seguindo sempre. A missa de sétimo dia é, entenda-se bem, uma passagem no meio do caminho. Chegamos lá. La Nave Va.

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