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Apedrejamento no Irã – Presidente oferece a Lula a primeira pedra

* Paulo Sérgio Leite Fernandes

Apedrejamento no Irã
Presidente oferece a Lula a primeira parte

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Ainda não sei se gosto ou não de Luiz Inácio, vulgarmente conhecido como “Lula”. Vi-o fisicamente apenas uma vez, lá no Ipiranga, há muitos anos atrás, sentado a uma mesa de pizzaria. Era perto da sede de seu partido político. Para mim era, e sempre será, um metalúrgico simpático que perdeu dedo numa comilona máquina de indústria. Deve doer ainda. Aprendi isso num livro de façanhas praticadas por pilotos na II Guerra Mundial. Um deles havia perdido o pé esquerdo. Apesar disso, tornara-se um ás caçando os alemães. Dizia que ainda sentia o pé, mesmo não o tendo mais. A dor gerada no operário de metalurgia persiste, portanto, a lembrá-lo dos tempos que já foram. Repito: não sei ainda se tenho ou não afeto por ele. Como Presidente não. É metido, folgazão e, enroupado nos galardões da Presidência, carrega o rescaldo de uma paranoia grandiloquente, cuidando-se de anomalia afetando dois terços dos políticos em geral e presidentes em particular. Mas, nos devaneios a todo cidadão deferidos, tenho simpatia pelo operário saído de São Bernardo do Campo, aquele mesmo afeiçoado, como tantos, a tomar um trago depois do trabalho, hábito que diferencia o pobre do rico no copo de cachaça ou na dose de whisky estrangeiro. No fim das contas, o líquido passa pelo cavername do metabolismo e sai nas águas.

O preâmbulo não chega à consciência sem sentido lógico. Na verdade, o metalúrgico Lula – não o Presidente – se dispôs a ligar para seu amigo Mahmoud Ahmadinejad, Chefe Geral do Irã, dividindo o poder com os aiatolás. Lula oferecia forma de tirar o outro do incômodo representado pela mulher condenada ao apedrejamento, tipo de execução que, há muito tempo, no livro “Aspectos jurídico-penais da tortura”, Ana Maria Babette Bajer Fernandes considerou clara especificação de tormento (lapidação). O industriário Luiz Inácio se esqueceu de que naquelas terras há, em cada canto, um aiatolá maluco cantarolando o Alcorão. Não existe, no Irã, aquela de perdoar Maria Madalena ou desviar os olhos do pedregulho pontiagudo oferecido a cada qual. Todos atiram, fazendo pontaria à maneira de parque de diversões. Dentro do contexto, Lula, no bom sentido, foi além dos tamancos, não se podendo esquecer que, no Direito Internacional Público, cada país mantém a plenitude de soberania quanto a suas leis e seus costumes, não sendo necessário ser jurista de ocasião e recorrer ao latinório para confirmar a hipótese. Aliás, o metalúrgico deveria ter aprendido a lição, pois um nosso antigo Ministro das Relações Exteriores, entrando em território norte-americano, deixou os sapatos no portaló de um aeroporto sem gerar incidente qualquer. Os países ditos civilizados, atentos aos formulários da diplomacia, sabem que não devem interferir nos predicamentos de Alá. Aquietam-se. O metalúrgico, os ouvidos ainda impregnados pelo som da maquinaria que lhe feriu o corpo, pisga-se para os conselheiros e, confiante na amizade do iraniano, oferece asilo à acusada de adultério. Leva uma sapatada. Se fosse eu, declararia guerra ao Irã e raptaria a infeliz vítima da selvageria dos aiatolás, protegendo-a no Brasil, pois aqui, na modernidade, nem mais se apresenta o risco do adultério. O casado de hoje é o divorciado de amanhã, bastando a tanto um desastre de ocasião. Insisto: não gosto do Presidente, mas a imprudência diplomática de Lula me faz ter afeto pelo metalúrgico. Errou ao se comunicar com o ledor do Alcorão. Ficasse quieto, mas fez o que faria qualquer companheiro seu, ao pôr-do-sol, depois da faina diária. E fez muito bem.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos

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