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Diplomacia internacional – Uma questão de cama (Caso WikiLeaks)

Paulo Sérgio Leite Fernandes

A eletrônica transformou o mundo moderno num centro universal de fofocas, a maneira de fatídica predição de Paulo Vanzolini. O octagenário compositor, não menos genial, tem uma estrofe em que diz: “ – No último dia da vida/ Despedi- me dos meus pecados/ Uns maiores e outros menores/ Mas no geral bem pesados/ Do outro lado, somente/ A ingratidão que sofria/ O anjo pôs na balança e vestido de branco eu subi”. Desgraçadamente, isso vale pra tudo, desde as fofocas sobre o muro da vizinha até as chamadas indiscrições internacionais, envolvendo-se nisso problemas nucleares e eventuais pulos de cerca de um ou outro dignatário mastigador de Viagra (leia-se Silvio Berlusconi). O negócio funciona, evidentemente com muita sofisticação, no campo da chamada polícia política, sempre representada por siglas morféticas: M15 (James Bond), KGB (vide Putin), Mossad (uma das mais violentas), CIA (Os Intocáveis) e, para não se dizer que não falei de flores, Agência Brasileira de Inteligência (Abin, antes SNI). No meio de tudo, em quase condição de prima-irmã, funciona a Interpol, esta última com características mandonistas, pois não se sabe quem a dirige (até no canil há superior hierárquico). A vida é assim. Vai daí, os chamados delinquentes praticantes de determinadas infrações penais podem ser caçados sem formalidades maiores, sendo recambiados, com as resistências de praxe, aos países de origem. Não se procede, é claro, como aconteceu a Paulo César Farias, ao tempo de problemas político-criminais motivadores de viagem que fez a um distante país (Tailândia). Voltou de lá na mão-grande, algemado na poltrona de um avião e sem qualquer mandado de extradição. Dizem as más línguas que o localizaram em razão de sua mãe-de-santo. Existe babalaô particular, à maneira dos “personal trainers”. Já ouvi dizer que funciona. Aliás, a ideia veio de um cartaz num poste: “Amarração. Adivinho o futuro. Pagamento no resultado. Sucesso garantido”.

Voltando-se ao título da crônica, há um australiano chamado Julian Assange que meteu num site um monte de fofocas muito sérias sobre segredos diplomáticos enterrados nos cofres de países importantes, prejudicando as confidências de alcova de variados embaixadores e Chefes-de-Estado. Sobrou para o Brasil. Nelson Jobim teria confidenciado ao embaixador norte-americano alguns pormenores constrangedores sobre terceiros. O Ministro da Defesa brasileiro nega o conteúdo, mas aqui o feitiço vira contra o feiticeiro, porque o espiolhamento da privacidade do cidadão é nauseabundo, sendo atiçado pela grande maioria dos órgãos responsáveis pela interceptação. Nas circunstâncias, as duas autoridades, se e quando havendo o diálogo posto em destaque, deveriam encontrar-se nus dentro de sauna funcionando a pleno vapor, mandando ver, antes, se não havia escuta provida de protetores contra o local rescendente a eucalipto (já existe isso).

Quem mais sofreu com o WikiLeaks foi a América do Norte. Hillary Clinton, ainda não curada totalmente do sofrimento causado quando o marido foi submetido a murmuração correspondente a atividades privadas (veja-se a elegância do cronista), não está pelas tintas. Verbera a bisbilhotice posta na internet. Por via indireta, obteve a desligamento do site pelo provedor americano Amazon. Julian Assange, o teimoso inconfidente, abrigou-se em outro esquema de divulgação, desta vez um francês. No meio tempo, surge a acusação de crimes sexuais consumados pelo internauta na Suécia. Os suecos, segundo consta, são muito escrupulosos em matéria de contato sexual, fazendo tudo cientificamente (consulte-se Anita Ekberg). A taxa de natalidade naquele país, entretanto, é assemelhada à brasileira, não competindo com a Nigéria (média de seis filhos por mulher). De qualquer forma, o australiano Julian Assange está, por enquanto, preso em Londres. Apresentou-se voluntariamente. Dizem que transou com mulher sem usar proteção emborrachada e sem aquiescência da parceira quanto à particularidade. Já se enxerga que o ser humano, quando ofendendo os pudores da discrição das grandes nações, paga um preço caro. Se pecado outro não encontram para pegá-lo, há de ser castigado por não ter usado camisinha no contato de ocasião, valendo dizer que até o Papa Bento XVI admite o uso do popularíssimo “condon”, criado na China nos idos do século XVII (feito com vísceras de suínos). Só falta um édito autorizador de tal conduta (bula papal?). Transgressão gravíssima cometeu o australiano. Pelo visto, vale ainda a tradicionalíssima frase de Poirot, célebre detetive inventado por Agatha Christie: “Cherchez la femme”. No depoimento da moça insatisfeita repousaria, quem sabe, o destino do infrator Julian Assange e da intriga internacional…

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