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Visita de Obama ao Brasil (ou “Há quem goste de ser manipulado)

Paulo Sérgio Leite Fernandes

O significado mais simples de “manipulação” é tocar com as mãos, inspecionar alguma coisa, ou o corpo de alguém. Os ministros Mercadante e Mantega, sendo o último responsável por toda a economia nacional, foram aviltantemente manipulados pelo serviço secreto norte-americano, composto por aqueles mesmos que, embora disfarçados, todo mundo sabe que são espiões, como os “homens de preto”. É mais ou menos o que acontece com a polícia. Pode usar roupa de estivador, mas é polícia. Pois bem: Obama é simpático, joga futebol com as crianças na “Cidade de Deus”, vai pedir a bênção ao Cristo Redentor, mas aparece no Brasil assemelhado a um Orfeu negro. Entra na nossa casa e não limpa os pés no tapete. Inspeciona nosso quarto de dormir, olha embaixo das nossas camas, fiscaliza nossos alimentos e deve até levar um provador, como os césares, a saber se o bife não contém veneno. Abraça a Presidente da República e a trata como igual, mas seus cães de caça manipulam nossos ministros. E nossos ministros permitem. Depois, irritados, deixam o local porque não havia tradução simultânea, mas foram inspecionados nas vestes e nas partes baixas. Certa vez, meus assistentes me levaram a ver um jogo de futebol no Parque Antártica. O Palmeiras venceu o Santos por 2 a 1. Rogério, meu sócio na advocacia criminal, e Maurício, também assistente, me apontavam os astros da partida. Robinho, Diego, Elano e Renato estavam lá. Marcos servia no gol do Palmeiras. Eu era o único de paletó e gravata no estádio inteiro. Puseram-me, à entrada, numa fila enorme, porque a Polícia Militar manipularia todos procurando armas ou petardos diversos. O PM me escolheu como exemplo: começou a me apalpar e encheu a mão na minha genitália (expressão muito elegante, aliás). Assustei-me. A partir dos cinco anos de idade, o único homem que mexera ali perto fora proctologista, isso depois (exceção feita à pediatra – era uma mulher –, e ainda assim com muito cuidado e pudor). Eu ia meter um tabefe na orelha do sargento, mas não se estapeia um beleguim. É morte certa. Pensei melhor. Sorri de lado e disse baixinho: “– Você está gostando!”. Estádio de futebol parece feira livre. As coisas acontecem e trinta segundos depois todo mundo sabe. No fim, a torcida, mais meus jovens companheiros, me salvaram do soldado enfurecido. Nunca mais fui a jogo de futebol.

Mercadante e Mantega deveriam ter feito igual, batendo o pé no chão e armando um escândalo, chamando a presidente, aquela mesma que trocava afagos com Obama. Não o fizeram. É pena. Juntaram-se a outro eminente ministro que, não por medo mas por não saber o que fazer, tirara os sapatos nos Estados Unidos da América do Norte, embora responsável pelas relações exteriores do Brasil. Dentro de tal contexto, não somos iguais não. Estávamos na nossa casa e fomos manipulados pelos mastins do presidente americano. Não adianta reclamar à Embaixada ou ao Itamaraty. A inspeção das partes íntimas de um ministro brasileiro, mesmo em território nacional, sai nas águas. Afinal, nossos índios andavam nus, alguns protegendo as “partes” dentro de um canudo de bambu. No fim de tudo, Dilma vai a Washington. Há de levar componentes de sua guarda pessoal. Estes, com certeza, esmiuçarão as intimidades de Hillary, se ela deixar, ou de Bill, que não é assim tão pundonoroso. É do ramo.

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