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Quem manda no avião da Dilma?

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Há alguns anos precisei estudar direito marítimo, em razão de uma colisão de navios. Não se tratava de mão e contramão, mas sim de estibordo e bombordo, proa e popa, mais coisas tais. De lá me restou um conjunto de parcos conhecimentos sobre navegação. Sei, por exemplo, que veleiros têm algumas vantagens sobre barcos a motor, pois são mais delicados e dependentes da energia eólica. Mas sei, entre outras coisas, que quando o comandante do navio põe a nau ao mar, tem poder de império, decidindo a sorte ou azar da embarcação. Dizem que o direito aeronáutico é igual: o piloto-chefe se põe à esquerda, na cabine, dando ordens a todos e decidindo o que se deve fazer, sempre acolitado pelo copiloto nas aeronaves de porte médio ou grande. É isto, mas talvez isto não seja, porque os aviões presidenciais têm necessidades diferentes e normas muito estritas sobre quem manda. Lembra-me um episódio tragicômico acontecido há alguns anos: agentes da polícia federal pretendiam embarcar num voo de carreira carregando as pistolas (polícia sem pistola é como mulher sem batom na bolsa. Fica desesperada). Vai daí, o comandante exigiu que as armas lhe fossem entregues. Foi preso. Depois de muita conversa, outro comandante tomou o manche e carregou os policiais, cada qual com sua arma à cinta e cofiando os bigodes (era uma época em que todo policial usava bigode, não se sabe por qual razão).

Surge nos jornais, hoje, notícia localizável, em tese, em filmes de James Bond: o comandante do avião “Força Aérea I” do Brasil, o “Dilmamóvel”, coronel Geraldo Corrêa de Lyra Júnior, entendendo que o avião lhe pertencia, levou consigo a Natal, no carnaval, uma jovem que não era sargento (todas as comissárias de bordo são militares). Há, lá dentro, regras estritas de segurança. A presidente pode levar, em tese, quem quiser: o marido, a mãe, a filha, a neta, o genro, a cabeleireira, a esteticista, o médico de confiança, e o cachorrinho, se tiver. Lembro de uma foto do presidente Bush – o pai – descendo do avião atrás do cachorro de estimação, sabendo-se que o cão enjoava na viagem e precisava tomar Dramin – ou assemelhado. Presidente é assim. Assim era com César, na Roma antiga, e com Gêngis Khan. Lula, quando adquiriu um dos aviões a servi-lo, cogitou sobre se deveria ou não ter banheira – não banheiro. Deixou-se de lado a ideia, porque a aeronave balançava e podia alagar o piso. Volte-se ao comandante: pôs a moça no avião. Havia lugar sobrante. As outras não devem ter gostado da intromissão. Alguém dedou insolitamente: a bagagem da menina, no retorno, foi parar no gabinete da presidente. As malas eram iguais, pois toda tripulação do avião oficial usa acessórios identificados. A presidente não usa o mesmo estilo da mulher de Obama (aqueles vestidos floridos estão sendo disputados nas grifes da rua Oscar Freire, em São Paulo). Dilma viu e não gostou. “Esse vestido não é meu! Quem pôs ele aí? Chama o coronel!”. A comédia ainda não terminou. Entretanto, o coronel Geraldo Corrêa de Lyra Júnior é um muito competente piloto, sendo extremamente confiável nas rotas aéreas. Aposto que leva uma raspança, mas leva Dilma aos Estados Unidos. Sem a passageira, é claro. Esta, com certeza, vira modelo ou se candidata ao “Big Brother”. Mas se for, como se espera, uma criatura recatada e amiga da família, vai ficar muito envergonhada e há de maldizer as comissárias que também são sargentos (não existe em português a expressão “presidenta”, e também não é agasalhada nos dicionários a expressão “sargenta”). Para as últimas, primeiro o dever e depois a solidariedade feminina. O comandante, este precisa saber, não manda no avião da presidente da República. É apenas o motorista.

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