Home » Ponto Final » O mundo enlouqueceu e poucos percebem

O mundo enlouqueceu e poucos percebem

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
O mundo enlouqueceu e poucos percebem***

_______________________________________________________________________

Lê-se nos jornais a notícia de que é mais vantajosa, em trajetos iguais ou inferiores a vinte quilômetros, a utilização de taxis, deixando-se em casa carros particulares. É bem possível que assim seja, principalmente nas metrópoles de grande porte, com predominância para São Paulo. O cidadão, conduzido por motorista profissional, pode devotar-se a refletir sobre problemas a enfrentar durante o dia mal começado.

Curiosamente, o noticiário leva o leitor a uma outra sorte de raciocínios, gerados estes últimos pela forma extravagante com que a população vem guiando os seus veículos. Realmente, se o sinal de trânsito passa para a luz verde, aqueles condutores postos linhas atrás do que se encontra diretamente no cruzamento não aguardam mais que três ou quatro segundos para uma dupla e irritante buzinada, chamando a atenção daquele que, ao ver de todos, é retardatário. Trata-se, aqui, de acidente corriqueiro na vida de cada um mas tem relação com a plenitude de enfrentamento do cada vez mais difícil relacionamento entre os homens, destes com a comunidade, da comunidade com o município, com o Estado e finalmente com o próprio universo. O fenômeno, no fim de tudo, diz com a intemperança mundial. No plano da globalização, há seguidas e cruentas lutas entre várias nações, intrometendo-se outras na briga particular, umas porque entendem que os direitos do homem e do cidadão estão sendo violados, outras por precisarem experimentar, na refrega, novas armas de guerra que necessitam ser comercializadas. Na última alternativa, quem sabe, a França poderia ser citada enquanto, à maneira de Hitler na guerra civil espanhola, põe seus aviões de caça voando sobre os países beligerantes. Faça-se breve comentário sobre o ano de 1939: Adolf Hitler destruiu Guernica a poder de metralha e bombas disparadas pelos depois famosíssimos “Stuka”, assemelhados aqueles aviões a morcegos sanguinolentos porejando fagulha pelas ventas sádicas. Sarkozy deve estar satisfeito com seus “Rafale”, os mesmos oferecidos ao Brasil e ardentemente defendidos por Jobim. Chega-se lá, embora Dilma, sabiamente, tenha adiado o enfrentamento da questão.

Ao lado de tudo isso, nas coisas mais corriqueiras do relacionamento entre o ser humano e o Poder, há um choque às vezes disfarçado e outras vezes aberto entre o homem e seus algozes oficiais. Existe uma verdadeira caça às bruxas, vendo-se o ser humano acorrentado por todos os lados e sem válida possibilidade de resistência, pois o próprio juiz, equilibrador por natureza, se incrusta na couraça autoritária, sentindo-se os magistrados, rotineiramente, quase impotentes enquanto procuram raramente auxiliar o burguês a reagir contra a fome estatal. Isso não acontece só no Brasil. É característica universal.

Verifica-se, com certeza, o acorrentamento do povo, usando-se para tanto, agora, meios eletrônicos quase atingindo a perfeição. A privacidade deixa de existir. Há múltiplas invasões no sigilo correspondente a atos mais simples da vida. Os médicos começam a abrir os mistérios das confidências dos pacientes, vendo-se inclusive ameaçados de processos por desobediência se persistirem no encadeamento dos prontuários. Os próprios hospitais não reagem às requisições de informações sobre seus doentes. Setores importantes do Poder cruzam suas informações, transformando-se em perseguidores implacáveis de possíveis renitentes. Há, nas lonjuras de Haia, um Tribunal Penal Internacional voltado à punição, entre outros, de crimes contra a humanidade. Não existe, entretanto, órgão algum com jurisdição para proteger, impositivamente, o cidadão perseguido com injustiça. Toda atividade internacional, já se vê, inclusive aquela concretizada em ligações multinacionais, sub-reptícias a exemplo da Interpol, tem sentido plenamente persecutório, nunca protetor. Pode-se dizer, em suma, que o mundo vai muito mal.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

Deixe um comentário, se quiser.

E