Home » Ponto Final » Estados Unidos da América do Norte apoiam a tortura

Estados Unidos da América do Norte apoiam a tortura

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Estados Unidos da América do Norte apoiam a tortura***

____________________________________________________________________________

Ainda sob o influxo do assassinato de Bin Laden cujos méritos e defeitos, grandes embora, nunca autorizariam execução praticada, inclusive, em país estrangeiro, a imprensa mundial começa a produzir noticiário esparso apoiando o homicídio praticado, queira-se ou não, com a bênção do presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Já houve declarações, provindas de pessoas razoavelmente importantes naquele país, no sentido de que uma ou outra criatura suspeita de participação no grupo de Bin Laden havia sido submetida a interrogatórios forçados, realçando-se o afogamento fictício. Afirmou-se, àquela altura, que houve suspeito posto sob mais de cento e oitenta sessões de tortura. Para quem não sabe, a tortura por ingestão forçada de água se faz, às vezes, com um pano molhado sobre a boca aberta, numa espécie de filtragem terrivelmente angustiante. É diferente de se enfiar a cabeça da criatura dentro d’água, pois na segunda hipótese podem resultar sinais de violência física. Isso, no frigir dos ovos, é menos importante. O cronista se recorda, no tempo da ditadura, de ter posto em liberdade cidadão colocado em pau de arara, nu, com o corpo molhado para melhor absorção de choques elétricos em várias partes do corpo. A aparência, segundo se diz, é a de um frango depenado.

Chega o assunto à lembrança enquanto se lê texto posto hoje, 16 de maio de 2011, no jornal “O Estado de São Paulo”. A autoria provém de um dos componentes do primeiro escalão do governo Bush. A criatura justifica Guantánamo e defende o fortalecimento desse tipo de aprisionamento, embora não o fazendo raivosamente. Dá a sensação de ser um estudioso teórico da ciência de inflição de sofrimento à criatura humana. Tocante a Guantánamo, temos coisa igual ou pior no Regime Disciplinar Diferenciado, posto a viger num país sob a má inspiração de bom criminalista nacional. Assim, a prisão desse estilo não surpreende demais os brasileiros. Quanto à tortura, chegaremos lá, certamente, porque se conseguimos imitar os americanos do norte no degustamento de hambúrgueres, de acordos espúrios e mefíticos entre acusadores oficiais e réus e, no fim das contas, transações vergonhosas entre delinquentes e autoridades que agem, em tese, em nome do mocinho, não será preciso muito esforço para a admissão de métodos de interrogatório sob castigos físicos e emocionais, com inovações que só nós brasileiros sabemos fazer. Espere-se ardorosamente que isso não aconteça, mas na medida em que já violentamos os lares de dezenas de brasileiros, interceptando seus telefones, computadores e correspondência escrita, pouco falta a alcançar. De repente, competindo com Obama, chegaremos a vencê-lo em inventividade repressora. Temos senadores convictos na exacerbação dos métodos de punição, chegando até à castração e pena de morte. O cronista sempre disse que essa história de brasileiro ser bonzinho é picaretagem. Que o digam nossos muitos ancestrais, bons capitães de mato e especialistas no azorrague zurzindo às costas dos escravos. Que o digam os Paraguaios exterminados na guerra do chaco ou os defuntos do Araguaia, se e quando puderem falar. Dentro do contexto, o presidente dos Estados Unidos da América do Norte acaba ficando para trás entre nós.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

Deixe um comentário, se quiser.

E