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Sentença de um assassino

Sentença de um assassino
(Jump – 2007)

Lucas Andreucci da Veiga

“Sentença de um assassino” narra a juventude de Philippe Halsman (Ben Silverstone), anos mais tarde renomado artista na América mas na época ainda fotógrafo austríaco noviço suspeito do assassínio do pai. O fato teria ocorrido durante caminhada nas montanhas europeias e as desavenças havidas costumeiramente entre ambos teriam motivado a hipotética conduta infracional. As provas, frágeis por certo – e ainda assim alvo de tentativa de manipulação – bastariam à comprovação da inocência de Halsman, embora insuficientes para a identificação dos responsáveis pelo crime.

O processo, em tese simples, no contexto se afigurava complexo pela presença de dois elementos: a ascensão do nazi-facismo naquela parcela do velho mundo, contaminando a população e direcionando o ódio às minorias, motivo este ao qual se somava a origem hebraica do réu. Tal foi o cenário no qual se realizaria o primeiro julgamento de um judeu sob a influência dos ideais nacional-socialistas, sendo delegada aos representantes do povo postos no Tribunal do Júri a responsabilidade pelo veredicto. À defesa de Halsman, contando até então somente com o apoio da mãe e da irmã, se junta o advogado Richard Pressburger (interpretado pelo saudoso Patrick Swayze). Desde a constituição como patrono do acusado, o causídico inicia extenuante batalha legal, se esforçando para impedir que o clamor popular e a antipatia que se tinha do réu não contaminasse a justeza da decisão.

Aspecto de maior importância abordado no filme é a dificuldade de se defender alguém previamente condenado pelo populacho, independentemente de convicção aferida através dos indícios e provas. Aliado a isso, a dupla condição do acusado, judeu e filho do falecido – israelita igualmente – torna a defesa tarefa árdua.

Embora se cuide de fato ocorrido décadas atrás, há inúmeros exemplos de situações contemporâneas assemelhadas. O povo condena, sendo desimportante se há ou não culpa do réu pelas condutas imputadas. Como ilustração, tem-se, no recente passado brasileiro, o julgamento do casal Nardoni, ao qual se devotou grande antipatia desde o início. Redundou o júri em severa condenação após incessante cobertura do caso pela mídia. Embora o assunto já tenha sido tratado em suas minudências neste site (v. ponto final “O júri dos Nardoni – Considerações periféricas”), ainda é nítida a lembrança de imagem mostrando o alvoroço ao redor do Tribunal do Júri de Santana: incontáveis pessoas aglomeradas ali, exigindo a cabeça daqueles que, na expectativa do destino, aguardavam a concretização da vontade popular. Se justa ou injusta a sentença não cabe, aqui, análise alguma. Resta a crítica à necessidade da sociedade de eleger seus inimigos, expiando suas culpas e pecados na contemplação da execução alheia.

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