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Dominique Strauss-Khan, o francês sedutor, se reabilita (Ou “Procurando bem, todo mundo tem pereba”)

Paulo Sérgio Leite Fernandes

O francês Strauss-Khan, personagem central de acidente sexual assemelhado àquele que infernou Bill Clinton, foi solto pela justiça de Nova York. Aquela Cidade-Estado, sabe-se bem, tem suas disposições criminais particulares. A pena de morte, por exemplo, ainda vige em alguns Estados da América do Norte. Já se tentou regionalizar o processo penal no Brasil. Aqui não funciona. De qualquer forma, o francês Strauss-Khan, preso lá atrás por violência sexual contra uma negra faxineira de hotel de luxo, empenhou fiança caríssima, sendo posto em prisão domiciliar depois e, agora, merecendo a liberdade, com possibilidade de retorno ao país de origem. Em síntese, a hipotética vítima teria mentido ao afirmar que ele a forçara à prática de atos sexuais diversos da conjunção carnal (felação, na expressão do saudoso Flamínio Fávero). Descobrira-se que a moça mantinha comunicação com criatura envolvida em infrações penais diversas, além de conservar quantia inadequada numa conta-corrente bancária. Assentou-se também que a empregada havia falseado a verdade relativamente à sua entrada nos Estados Unidos. Paralelamente, havia contradição nos depoimentos prestados, levando o Ministério Público a descrer das imputações ao importante diretor do Fundo Monetário Internacional. Strauss-Khan, segundo consta, merece a simpatia de importante segmento político francês. Era candidato certo à presidência da França. Retoma um pedaço da credibilidade perdida.

A inversão da prova, em Nova York, se deveu, certamente, à capacidade de investigação privada deferida à defesa nos Estados Unidos da América do Norte. Dominique contratara um dos melhores criminalistas norte-americanos, uma espécie de John Grisham dos romances judiciais daquelas plagas. Grisham toma Nova Orleans como sede de muitas das aventuras. Trata-se de cidade de porte médio, uma espécie de “Santos” sem praia, porque é banhada pelo Mississipi. Há um porta-aviões velho ancorado ali. Estive lá algumas vezes. Romances policialescos passadas em Nova Orleans vendem milhares de livros ao autor, mesmo faltante originalidade. No Brasil não.

Voltando-se ao sexômano Strauss-Khan, dizem que ele sai do acidente com uma certa aura de masculinidade. Não é calvo, não se apresenta barrigudo e, portanto, não se assemelha a um fauno arrastando as chinelas pela rua. Ao lado disso, há suspeita de “armação”. Melhor dizendo, políticos de oposição teriam preparado uma cena destinada a privar o homem de suas aspirações à presidência da França, em substituição a Nicolas Sarkozy, o marido da Carla Bruni.

Pode haver no fato alguma ligação com fraude. Nos meus cinquenta e um anos de advocacia criminal já ouvi algumas histórias do gênero. Lembro-me de colega posto a defender importantíssima personagem brasileira pega num motel com adolescente menor de quatorze anos (é estupro). O homem teria sido enganado pela menina. Esta, muito desenvolvida, aparentava idade bem superior. Além do mais, cuidava-se de rapariga muito sedutora. Vai daí, a polícia deu uma batida no local e prendeu em flagrante o cavalheiro. Foi um desastre… descobriu-se mais tarde que um segmento da “Máfia”, aborrecidíssimo com perseguição feita a seus prepostos, havia montado o feio incidente.

É bem provável que Strauss-Khan tenha sido submetido a manobra parecida. Cuidando-se de homem com pouca censura interna a seus sumos glandulares, pode não ter oferecido resistência à imigrante afanosa de prazeres. Vestígios do enlaçamento sexual teriam sido encontrados, assemelhadamente aos restolhos do abraço concupiscente entre Bill e Monica. Se Clinton superou o trauma, em prejuízo aliás da moça – cujo destino não desperta hoje maior interesse –, Dominique pode tomar aquilo a título de precedente, formando-se então jurisprudência. Simplificando: não havendo violência ficta ou real, os franceses darão o seu perdão. À maneira de Berlusconi, melhor um produtivo macho velho do que um discursador cheio de meneios em praça pública.

Já se viu que a crônica começa falando de processo penal e termina salpicando um toque sensual. Não era esta a intenção. Pretendia-se acentuar que no Brasil vertente já existe, partindo dos criminalistas, atividade investigatória mudando, ocasionalmente, o destino dos processos. Veem-se reviravoltas. Dentro do contexto, não só o Ministério Público nacional dispõe de recursos para violar a intimidade dos bons e dos maus. O Código de Procedimento brasileiro já admite a intervenção de assistente técnico contratado pelos acusados. Os próprios perseguidores, repentinamente, têm suas perebas postas à luz do dia, em prejuízo da aceitabilidade das imputações feitas. Salvam-se, aqui, os santos, mas a santidade é proibida aos seres humanos. Bem escreveram Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda: “– Procurando bem, todo mundo tem pereba. Só a bailarina é que não tem”.

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