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O processo eletrônico e suas complicações

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
O processo eletrônico e suas complicações***

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Os americanos do norte, além de estarem perplexos com endividamento arriscando aviltar a imagem de Benjamin Franklin nas notas de cem dólares, têm costumes que parecem dar aulas práticas ao resto do mundo. Procuram ser rápidos em quase tudo, inclusive na comunicação entre o povo e a justiça. Usa-se normalmente, lá nos tribunais, o método audiovisual, com muito som, muito rosto aparecendo e pouco papel. Existe também, no trato das audiências, um aparelhamento que recolhe a voz humana e a transforma em símbolos escritos, numa clonagem quase perfeita. Fiquei entusiasmado com aquilo e adquiri uma engenhoca daquelas, fabricada por uma dessas multinacionais famosas. Tenho a sensação de que é por causa dessas trolhinhas que os juízes norte-americanos costumam falar silabando. Por exemplo: “good morning” ou “good bye”, tudo muito devagar, porque o computador só reconhece aquilo que é muito bem dito.

Depois de algum tempo treinando, abandonei a experiência, pois a gente adquire o costume de falar com a mulher, com os filhos e os amigos como se estivesse ditando para transcrição eletrônica. Vira-se uma espécie de boneco ventríloquo. As audiências se transformam em alguma coisa meio cômica.

Outro costume da Justiça saxônica é economia da margem direita. Não há justificação nas poucas petições escritas que, aliás, têm limite de palavras. Na medida em que nós brasileiros somos grandes imitadores, a partir do “hot dog” e do “hamburger master”, capaz só um deles de matar a fome por três dias e gerar um terrível veneno gaseificante na mistura com coca-cola, havemos de chegar lá, competindo na obesidade, no colesterol e na rapidez enquanto distribuímos justiça. Em síntese, estamos chegando bem, mas será muito bom torcer o nariz a um aumento da inflação e acréscimo da dívida interna. Já é bastante o esforço do Banco Central enquanto interfere na aquisição do dólar, para impedir a valorização excessiva do real. É aí que eu me ufano, inclusive, de ser brasileiro, quando chego a Buenos Aires e exibo orgulhosamente dinheiro nacional, trocando dois pesos e meio por um real. Haja “media luna”.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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