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Poemas de Ives Gandra

Paulo Sérgio Leite Fernandes

José Rogério Cruz e Tucci remete dois livros ao site. Um se refere a comentários feitos por ele sobre a vida e obra do italiano Piero Calamandrei, autor, entre outras obras, de “Eles, os juízes, vistos por nós, advogados”. A tradução do título não seria bem esta, conforme Tucci, mas fica para depois. Uma das particularidades tratadas pelo cultíssimo Rogério é o terceiro terço da vida de Calamandrei. Este emérito processualista civil, além de escrever muitos livros de doutrina, se deu à pintura, circunstância não muito rara, aliás, bastando lembrar, entre os intelectuais brasileiros, embora de outra área, Ivo Pitanguy, Ewaldo Bolívar de Souza Pinto, Aldir Mendes e Luiz Sérgio de Toledo, cuidando-se de quatro diferenciados cirurgiões plásticos postos entre os melhores do mundo. Pitanguy, cuja clínica visitei há uns trinta anos (não para me embelezar, advirta-se), tinha e tem boas telas, presidindo antes, se a memória não falha, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Aldir Mendes se notabiliza com obras muito lindas, tendo alguns “books” expostos nas boas livrarias do ramo. Ewaldo Bolívar se recolheu, sempre atraído preferencialmente pelo bisturi, mas pintava bem. Tocante a Luiz Sérgio, é um cronista sempre reconhecido.

Já se vê que estou a misturar o processo civil italiano, a pena privilegiada de José Rogério Cruz e Tucci, o pai Rogério Lauria Tucci (de quem nem é preciso falar, tão conhecido é), Calamandrei e cirurgiões plásticos competentíssimos. Aumento a perplexidade e coloco no grupo Ives Gandra da Silva Martins, cuja cultura polimorfa tornaria inúteis explicações maiores. Não paro nele. Estendo a ciranda a João Carlos Martins, extraordinário regente de orquestrações ditas até extravagantes, pois consegue levar a salas internacionais grupos afro-brasileiros, misturando atabaques e violoncelos. Deixem-me explicar a barafunda: Rogério Lauria Tucci, o pai, foi preceptor, na Universidade de São Paulo, da minha primeira mulher, Ana Maria Babette, falecida antes de ser hora, mãe dos meus três filhos e tão importante quanto Dyonne, a segunda, que me suporta com infinita paciência; José Rogério, conheci jovenzinho, ainda a perseguir o início da carreira jurídica vencedora; Ewaldo Bolívar, Aldir Mendes e Luiz Sérgio de Toledo se ligaram a mim, lá atrás, no tempo, muito atrás por sinal; Ivo Pitanguy e eu conversamos bastante, na antiga capital da República, enquanto se fundava a associação dos ex-alunos dele. Tenho os rascunhos do estatuto anotados com a letrinha do grande reformador de mulheres. Já se vê que são arquivos implacáveis. Quanto a Ives Gandra e João Carlos Martins, almoçamos juntos em Belo Horizonte, há no mínimo quarenta anos, nós e as respectivas esposas. Relembro, tocante a João Carlos, uma particularidade transcendental: a moça ao lado, sua primeira mulher com certeza, lhe cortou o bife, para livrá-lo de um acidente qualquer. Cuidava-se, já então, de um dos maiores intérpretes mundiais de Bach (v. “O cravo bem temperado”). Naquele dia, Ives Gandra, que de ruim só tem a letra quase criptografada, fez um poema para Ana Maria Babette, chamando-o “Nefertite”. Esqueceu disso, por certo, mas eu o tenho nos meus guardados, e muito bem guardado…

Todo o escrito deve ter encadeamento lógico. Não se falte à recomendação. Ives Gandra me envia um CD chamado “Para Ruth”, musicado por Eduardo Santhana e contendo quinze poesias no meio das melodias. Que coisa curiosa é a sinfonia da vida: o tempo vai e vem, enlaçando os personagens num bailado docemente dramático. Rogério Lauria Tucci, José Rogério, Ewaldo, Pitanguy, Aldir, Luiz Sérgio, Ives Gandra, Ana Maria Babette, Dyonne, Ruth, João Carlos Martins e este saudoso criminalista, uns sobrevivendo, outra que já se foi, vindo à tona a lembrança ao chamamento do nome de Piero Calamandrei, tudo porque, no fim da vida, aquele jurista largou a caneta e se devotou aos pincéis.

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