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A Formatura

Roberto Delmanto

Pela primeira vez eu fora convidado para ser patrono de uma turma de formandos de conhecida Faculdade de Direito, tendo me sentido muito honrado.

Sabedor de que tais eventos costumam ser longos e cansativos, pensei em fazer um discurso, de improviso como nós advogados preferimos fazê-lo, mas curto e que desse aos novos bacharéis alguma orientação prática para a futura vida profissional.

Na noite da formatura, o salão, muito florido e com um conjunto musical, estava lotado de familiares e amigos dos formandos, todos emocionados.

Eu era o único na mesa que dirigia os trabalhos que não era professor da Casa. Como patrono, fui escalado para falar em último lugar.

Os discursos eram demorados e, enquanto a assistência começava a mostrar-se cansada, a algazarra dos formandos era geral.

Quando um orador assumia a tribuna improvisada, ficando de frente para o público e de costas para os novos bacharéis, a folia destes aumentava, com gritos, assobios e brincadeiras. Quando o paraninfo, queridíssimo dos alunos, discursava, cheguei a ouvir um deles gritar: “bicha”…

Percebi, então, que precisava encurtar mais minha fala e improvisar algo diferente.

Quando a palavra me foi finalmente dada, resolvi falar praticamente de costas para o público e de frente para os formandos. Minha postura os inibiu, de forma que acabei sendo o único orador ouvido por eles em silêncio.

Meu discurso não demorou mais do que quinze minutos e, como mudei o tema para a advocacia durante a Revolução Francesa, quando muitos advogados, por alegados excessos na defesa dos perseguidos, eram levados à guilhotina, os formandos, bastante assustados, não só me escutaram, como, melhor ainda, também não me xingaram…

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