Home » Ponto Final » Por que as crianças se matam?

Por que as crianças se matam?

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Por que as crianças se matam?***

_____________________________________________________________________________

Entendem-se por crianças aqueles que mal chegaram à idade da razão, por volta dos quatro anos, até a adolescência, hoje fixada, para as mulheres, por volta dos doze anos de idade. Os homens chegam a isso um pouco mais adiante, regra geral, sabendo-se que a maturação foi acelerada de uns tempos a esta data, não se conhecendo exatamente as razões.

Há nos seres humanos, enquanto se desenvolvem, um curioso sadismo. Já vi garotos matando passarinhos e pisando em insetos de natureza diversa. Paralelamente, e na medida em que os meninos – principalmente os meninos – vão crescendo, surge o eterno dilema entre o bem e o mal (não é à toa que brincam de mocinho-bandido, Batman, Homem Aranha e heróis outros da fantasia). Há, certamente, diferença marcante entre as novas gerações e aquelas perdidas nos anos 1940, dos quais, aliás, há remanescentes em proporção hoje razoável. Naquele tempo, inexistindo a televisão, as notícias vinham pelo rádio-bigode, normalmente colocado embaixo da escada dos casarões, quando casarão havia, ou num nicho qualquer do cômodo principal das casas mais humildes. Sempre o conflito entre o bem e o mal, era o que vertia das novelas. Lá atrás, naquela época, as mães tiravam a criança das proximidades do instrumento esquisito que vertia a voz do “Zorro”, ou do “Príncipe das Trevas”. O barulho das patas do cavalo era feito por cascas de coco cortadas em metade. folhas-de-flandres imitavam os trovões, levando pavor aos ouvintes. Dir-se-ia que o menino de hoje vê o exterior de outra forma. A visão completa a audição. O influxo psicológico é muito mais forte e direto. Setenta por cento dos programas de TV são violentos. A morte é a rotina.

Quando “Columbine” aconteceu, o universo multiplicou informações, numa continuação ensandecida. Houve advertências variadas sobre a possibilidade de reincidência, sem êxito porém. A criança vê, ouve e participa idealmente daquilo tudo. O resultado anda por aí. Afirmar-se-á que uma criança, como regra, não atira numa professora, matando-se após. É exceção, sim, mas a extensão daquela conduta trágica funciona explosivamente na comunidade. Uns recebem a informação e a guardam num canto qualquer do inconsciente; fração mínima deixa aquilo vagando numa zona cinzenta, esperando ativação. De repente acontece outra vez.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

Deixe um comentário, se quiser.

E