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São Lourenço, em Minas Gerais, disciplina motores de um cavalo

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
São Lourenço, em Minas Gerais, disciplina motores de um cavalo***

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Notícia curiosa é posta nos jornais de segunda-feira, 10 de outubro de 2011. O município de São Lourenço, em Minas Gerais, tem lei municipal obrigando charreteiros a exame de habilitação. A lei visa as tradicionais charretes usadas naquela cidade para transporte de passageiros, principalmente de turistas que frequentam o município. Diga-se que os visitantes se valem da água mineral vertente de subsolo havido, no passado, como milagroso. Eu mesmo tenho na minha sortida biblioteca uma obra sobre a cura pela água, em três volumes, escrita por um médico chamado Doctor Vander, afirmando-se no introito cuidar-se de moderna medicina natural. Deve ser bom. Há fotografias em preto e branco sobre o chamado “baño vital”. A obra vem em castelhano. Foi impressa em Barcelona.

Volte-se ao assunto principal: São Lourenço tem cinquenta e poucos charreteiros. Foram todos submetidos a um exame municipal de habilitação. Quanto às charretes, estão classificadas no artigo 96, I, “d” do Código de Trânsito. Constituem-se em veículos de tração animal. O inciso II, número 12, individualiza as charretes. O artigo 141, § 1°, habilita os municípios a autorizar a condução de veículos de propulsão humana e tração animal, significando que São Lourenço pode, com certeza, expedir carteira de habilitação para charreteiros. A notícia posta nos jornais dá conta da chamada “poluição ambiental”. Houve, no município, preocupação com o estrume. Em termos bem rudes, estrume é cocô de cavalo. Previram-se coletores a serem portados pela própria charrete.

A associação livre de ideias, tão decantada por Freud e outros psicanalistas, é extremamente curiosa. Meu cérebro, à leitura da nota veiculada, já me conduziu à Rainha da Inglaterra, Elizabeth II, ao Duque de Windsor, a Lady Di, tragicamente acidentada no trânsito, ao príncipe Charles, à atual esposa deste, Camila Parker-Bowles, que não é bonita mas parece deter qualidades especiais e, por fim, à Torre de Londres, cárcere de Mary Stuart, cuja cabeça foi cortada pelo machado oficial. Meu pensamento volta às charretes e aos cavalos. Penso naqueles equinos ingleses usados no casamento de William e Kate. Consta que os animais precisaram, antes do cortejo, ingerir laxante, porque seria muito constrangedor vê-los expelindo restos alimentares enquanto trafegando orgulhosamente em direção à Abadia de Westminster, onde se realizaram as núpcias. Na mesma catedral houve o casamento de Charles e Diana, embalados os noivos no piano de Elton John.

Daquele músico e cantor multiplamente dotado, já me introduzo no anglicanismo, relembrando que a separação entre os anglicanos e os católicos se deu, lá atrás, por uma questão de cama. Em síntese, o rei Henrique VIII queria divorciar-se de Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena. O papa ameaçou-o de excomunhão. O rei não teve dúvida: rompeu com a Igreja Católica. Ana Bolena, adiante, foi executada por incesto e adultério, mas isso já é levar longe demais a cidade mineira de São Lourenço. Chega!

Perceba-se: começo na água mineral de São Lourenço, prossigo na lei municipal exigindo habilitação aos charreteiros, visualizo Lady Di e sua sucessora, sofro com a decapitação de Mary Stuart e, finalmente, penso no estrume dos cavalos londrinos e mineiros. Tocante a ditos dejetos, é bom dizer que cocô de cavalo não polui. Quando seco, pode ser usado para pegar fogo e aquecer muito mendigo desagasalhado. Não se equipara, nem de leve, aos restolhos deixados nas ruas pelos chamados veículos automotores.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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