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Lesão corporal no esporte – Entre outros, a vez de Neymar

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Lesão corporal no esporte
Entre outros, a vez de Neymar***

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Não sou vidrado em futebol, mas gosto. Já fui advogado, em tempos imemoriais, de um gajo chamado Edson Arantes do nascimento. Para quem não sabe, o apelido dele é “Pelé”. Talvez seja esta a razão principal para eu assistir, de vez em quando, aos jogos do Santos Futebol Clube, travando conhecimento distante com um jogador chamado “Ganso” e outro alcunhado “Neymar”. Ganso ficou um bom pedaço de tempo sem participar, pois sofrera uma lesão durante um dos desafios do clube. Embora parecendo estarem a surgir repentinamente, vinham lá de trás, da base, ou da escolinha mantida pelo clube, revelando-se aos poucos. São, hoje, estrelas, dividindo o tempo entre a seleção, as atividades de propaganda e o campeonato brasileiro, segundo creio.

O garoto é magrelo, dir-se-ia enxuto, mas parece ter a musculatura no lugar certo, resistindo bem a pancadas. Dá um trabalho tremendo aos marcadores, pois tem uma familiaridade enorme com a bola e, certamente, contorce o corpo a cada drible, desconcertando o antagonista. A solução possível, na maior parte das vezes, é a falta.

Num dos últimos jogos, o garoto sofreu sete faltas, todas lançando-o ao chão. Ele reclama, faz trejeitos de dor, levanta-se e continua na empreitada.

É difícil, no esporte, a separação entre a lesão íntima ao jogo e o castigo querido, doloso mesmo, no sentido de ferir o adversário, mormente no futebol. Às vezes, numa das madrugadas insones, assisto a um pedaço da chamada luta livre, em que os contendores brigam exatamente para praticar ferimentos um no outro. Aquilo sangra terrivelmente. Os olhos incham. Narizes são fraturados. Fica parecendo que o vencido morreu mas, repentinamente, ele se levanta e vai para seu canto, medicado pelos assistentes. Aqui, a luta é feita para machucar mesmo. No futebol não. Há o castigo tendo a bola como destinatária principal e aquele outro em que o pontapé, a tesoura ou o carrinho são produzidos com má intenção.

Vale a síntese para análise dos acidentes de percurso em que Neymar, predominantemente, se vê inserido. Ocasionalmente, vencido na disputa, o antagonista atinge diretamente o corpo do moço, demonstrando, mais que a intenção de pará-lo, a vontade de produzir lesão corporal cuja dimensão e conseqüências ficam a critério da própria ocasião e da resistência dos músculos do rapaz. O futebol não é jogo para moças. Ou melhor, agora também é.

Independentemente de se cuidar de uma disputa máscula, é preciso cuidar para que os diferenciados não sejam inutilizados por golpe mais duro de quem esteja do lado de lá. Alguém há de lembrar que entre os astecas, na antiguidade, havia torneios parecidos, mas os participantes jogavam com as ancas (ou com o traseiro). A bola era feita com borracha de seringal. Precisava-se encaixá-la em buracos abertos na rocha, ou preparados de outra forma, mas sempre com boa pontaria. Os vencidos eram sacrificados, ou seja, mortos, em louvor a deuses.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e um anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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