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O safenado

Roberto Delmanto

“Seu” Nilton era um dos grandes doleiros de São Paulo.

Corretíssimo em seus negócios, nunca descumpriu o que fôra combinado, jamais deu um cheque sem fundos ao comprar dólares ou vendeu moeda norte-americana que não fosse autêntica.

Em certa época resolveu diversificar suas atividades, associando-se a um advogado em uma empresa de diversões eletrônicas. Não tendo tempo de se ocupar com a nova firma, confiou-a ao sócio-bacharel, que acabou por aplicar-lhe um vultoso “golpe”.

Meu pai Dante, meu irmão Celso e eu fomos seus advogados, primeiramente no inquérito policial que requeremos e depois funcionando como assistentes do M.Público no processo-crime instaurado.

“Seu” Nilton , um “sessentão” elegante e bem conservado, sempre comparecia ao escritório acompanhado de uma bela secretária de vinte e poucos anos, loira e exuberante.

Logo todos perceberam que entre ambos havia mais do que uma simples relação empregatícia…

Em determinado dia “seu” Nilton comunicou-nos que ficaria ausente por alguns meses, pois precisava fazer uma operação de safena. A cirurgia estava, então, em seus primórdios, não tinha a segurança de hoje e a preocupação com a saúde dele foi geral.

Depois de três meses “seu” Nilton reapareceu no escritório, belo e fagueiro, com a jovem secretária a tiracolo…

Meu pai, que tinha com ele liberdade, resolveu aconselhá-lo, dizendo: “Nilton, eu não pude deixar de perceber, nesse tempo em que sou  seu advogado, que existe um relacionamento mais íntimo entre você e sua secretária. Acho que agora que foi operado do coração, você deveria ter mais cuidado”.

A reposta de “seu” Nilton foi natural e imediata: “Mas doutor, foi justamente para poder ficar com ela que eu me operei”.

A partir de então, deixamos de nos preocupar com sua saúde e com sua secretária…

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