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Paulo Sérgio e suas fabulações

Tales Castelo Branco
Paulo Sérgio e suas fabulações

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Quando Machado de Assis lançou a terceira edição de Memórias póstumas de Brás Cubas, finalmente com formato de obra pronta, revista e acabada, após uma primeira edição feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880, e uma segunda um tanto descuidada, mesmo assim muito boa, Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: As Memórias Póstumas de Brás Cubas são um romance? O bruxo de Cosme Velho, no prólogo dessa edição, foi enfático: “(…) era romance para uns e não o era para outros.” Quase ao mesmo tempo, respondendo a  carta que lhe enviara Macedo Soares, Machado foi novamente enfático, e, agora, mais explicativo, falando pelo defunto: “Trata-se de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. (…) Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.” Já na mensagem ao leitor, o próprio finado Brás Cubas, reafirmando algumas considerações do prólogo de Machado, mencionou que escrevera a obra “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia” – completando: “e não é difícil antever o que pode sair desse conúbio.”

A obra de Paulo Sérgio Leite Fernandes – Fabulações de um velho criminalista, 1a ed. – São Paulo: Letras do Pensamento, 2011. 264 p. – guarda, em muitas passagens, certa semelhança informal com o livro de Machado de Assis. Semelhança apenas  informal, sem qualquer laivo de plágio. Vejamos: sem qualquer dúvida, o livro do Paulo Sérgio é “uma obra difusa”, porém, sem manchas de pessimismo, apenas retrato da vida e de suas realidades, escrito com a “pena da galhofa” embora sem a “tinta da melancolia”. Ao contrário, predominantemente, é um livro alegre, apesar de realista. O autor viaja à roda do mundo e à roda de si mesmo, ora como fabulador irreverente, ora como intelectual reflexivo e sério. Como esclarece o texto de uma das orelhas do livro, ele “não é autobiografia, romance de costumes ou livro de crônicas. Misturam-se os três estilos.”

Dir-se-á que, por muitas vezes, o brilhante criminalista deixa propositalmente de lado sua beca, para ser apenas um memorialista peralta, sem preconceitos e comprometido com as suas verdades, tantas vezes expostas no seu tradicional e culto “Ponto Final”.  E não poderia ser diferente: o literato ilustre (autor de Caranguejo-rei e Dolores), o músico primoroso (principalmente da “gaita de boca”), o artista surrealista da pintura e da xilogravura (misturador de cores e de técnicas) não poderia ter escrito livro diferente, ademais enfeitado por desenhos exóticos de sua própria autoria, lavrados em papel Couché da melhor qualidade.

O espaço dedicado a esta breve apresentação do livro de Paulo Sérgio Leite Fernandes, renomado e grande advogado criminalista, chega ao fim. Resta, gostosamente, desfrutá-lo!

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