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Campeonato Mundial de Clubes (Ou “Entre Ganso, Messi e Neymar”)

São Paulo é cidade com população, hoje, de uns dezesseis milhões de habitantes, compreendida a região metropolitana, não se sabendo o número exato. Tem colônias mais ou menos setorizadas. Há japoneses, coreanos, chineses, espanhóis, italianos, israelitas, bolivianos, colombianos, libaneses, sírios, portugueses e até índios. Anos atrás, no exercício da advocacia criminal, precisamos intervir numa ação penal em que um advogado foi virtualmente alvo de arcos, flechas e tacapes empunhados por silvícolas que compõem uma aldeia incrustada na metrópole, logo ali no Pico do Jaraguá. O colega cometeu a imprudência de usar estrada vicinal para chegar às terras de um cliente. Tanto bastou para a interferência do Ministério Público Federal, da Polícia respectiva e até de helicópteros. Os jornais divulgaram, no dia seguinte, fotografias de caciques vestidos e pintados para a guerra. O advogado foi preso. Houve discussões rebuscadas sobre o assunto, não se sabendo se arco e flecha constituiriam ou não armas de uso proibido.

O exemplo serve para melhor ilustrar o assunto. Vale dizer que São Paulo tem, também, algumas concentrações de cidadãos vindos de outros municípios. Políticos famosos nasceram em Campinas, Santos e Muzambinho. Tive um tio-avô, Aureliano Leite, nascido nas Minas Gerais e mandado estudar em São Paulo, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e tentar a sorte. Virou patriarca de geração ilustre na capital. Aqui há muito santista. Sou do tempo em que só se chegava à megalópole, saindo de Santos, partindo pela estrada velha, aquela mesma que hoje é aberta de vez em quando visando um turismo mais ou menos organizado. Havia também o trem, locomotiva puxada por cabos de aço ligados a uma cremalheira funcionando a vapor. Num dos vagões, quando criança, quase sufoquei porque a composição parou no meio de túnel cujas laterais ficavam a apenas quinze centímetros das janelas. O pessoal sofreu muito com o gás carbônico expelido pela chaminé. Insista-se nos santistas. Dizem os antigos que quem sobe a Serra do Mar não volta derrotado. Só retorna para morrer, se e quando houver lugar no túmulo da família.

Cuidando-se de particularidade menos melancólica, vale a pena falar no Santos Futebol Clube, ou na Vila Belmiro, donde saíram Pepe, Mengálvio, Tite, Zito, Durval, Lima, Clodoaldo, Giovanni, Robinho, Diego, Renato e muitos outros. Indagarão por que não falo de Pelé e Coutinho. Prefiro referir Sérginho Chulapa, que brigava com todo mundo. Já cansei daquele que não morre. O outro seria tão ou mais famoso, mas a fortuna lhe escapou sem que se soubesse porquê. É assim. Muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Basta dizer que era uma dupla celestial.

Torcedor santista é compulsivo, mais que corintiano. Santos, hoje, vive das praias razoavelmente limpas e do futebol que projetou a cidade no mundo inteiro. Quem chega à entrada do município já pode ver o Centro de Treinamento “Meninos da Vila”. Aquele cercado já teve o nome de um colega meu que morreu num desastre de avião. A nomenclatura muda intermitentemente. Lá começou essa história de categoria de base. Os moleques são pegos pequenos e ali se instruem nas artes, como se fazia em Esparta. Evidentemente, a garotada não é toda aproveitada, mas de vez em quando sobra um Neymar, o mesmo que até ficou bonito agora, depois de crescer mais um pouco e influenciar, inclusive, os adolescentes japoneses que precisam passar muito fixador no cabelo liso para poderem dar uma de moicano. Fica engraçado, um índio de olhos orientais. Mas acontece.

A gente fala, fala e fala e não fala do principal. Há dois anos, pintei um quadro do “Ganso”, cujo nome é Paulo Henrique. O apelido lhe teria sido dado por um treinador a achá-lo desajeitado. O moço é discreto no campo e na vida pessoal, mas seus passes são preciosos, visando geralmente o amigo Neymar. Machucaram-no há uns tempos. Perna de jogador de futebol é como a de bailarina. Merece proteção especialíssima. De qualquer maneira, “Ganso” voltou e está bem. Vai jogar, seguramente, na final Santos e Barcelona em Yokohama, no domingo, 18 de dezembro, às oito e meia da manhã. Na quarta-feira que passou cheguei atrasado ao escritório pela primeira vez em muitos anos. Minha mulher estranhou. Respondi que ia ver o “Ganso” jogar, afinal eu tinha feito um quadro para ele. Não dei ainda, mas minha neta Babette quer estar junto, quando acontecer. Torçamos para o Santos. É dia de missa. Posso assistir ao jogo inteiro. Messi que se cuide. Chuta com uma perna só. Neymar usa as duas. E muito bem.

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