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Marcação cerrada

Aldo Rodrigues de Souza 

A testemunha, homenzarrão com quase dois metros de altura, apresentou-se para ser ouvida. Era um homem bronco e embora já com as cãs embranquecidas, ainda estava forte e vigoroso. O Juiz, baixote, mais envelhecido, reconheceu seu antigo adversário das lides futebolísticas. O Magistrado que estava sentado, levantou-se e descendo do estrado que guarnecia a sala de audiências, aproximando-se da testemunha, disse: – “Você não se lembra de mim? Eu sou o “Ferreirinha”. Lembra-se de mim? Eu jogava na ponta esquerda e você era zagueiro”. E o homenzarrão, então, lembrou-se. Lembrou, com certeza, inclusive das botinadas que aplicara no Ferreirinha, para evitar que aquele então ponteiro ágil e ligeiro, cruzasse para a área e resultasse em gol. Abraçaram-se efusivamente. Já voltando ao estrado, sentando-se reiniciou a inquirição: – “Consta deste processo que o acusado esfaqueou a vítima, ferindo-a na região peitoral. O que o senhor sabe a respeito?” Respondeu a testemunha: – “Senhor, não, ‘Ferreirinha’, para com essa cerimônia toda, eu sou o ‘Paulão’. Você acabou de me abraçar”. –“‘Ferreirinha’ uma ova”, redarguiu o ex-ponta esquerda, – “aqui onde estou eu sou o  Juiz, eu sou o Magistrado…” e continuou normalmente a inquirição, não sem antes adverti-lo das consequências do falso testemunho…

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