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O caso Eloá – Ou “Parabéns à jovem criminalista” (Ou ainda “A loucura do populacho”)

Paulo Sérgio Leite Fernandes
Rogério Seguins Martins Júnior

         Diga-se, em primeiro plano, inexistir qualquer ofensa individual na expressão “loucura do populacho”, pois o povo, quando se junta, adquire uma espécie de consciência coletiva independente da vontade de cada qual. Isso é muito bem explicado por alguns técnicos em dispersão das multidões, dizendo mais intimamente com psiquiatras e psicólogos atendentes das polícias militares. O povo, quando formando magotes, é, intermitentemente, selvagem, desequilibrado e burro, bailando com o arcanjo e belzebu. Vê-se, às vezes, um discreto e tímido contabilista atirando a primeira pedra. Nos tempos de madame guilhotina, famílias contritas levavam crianças a verem a decapitação dos nobres na Praça da Bastilha, rindo todos enquanto as cabeças pendentes ainda mexiam bocas e olhos. O populacho pode ser burro, sim, a ponto de não entender a sacrossanta atividade dos advogados de defesa nos julgamentos que, em certas oportunidades, já têm condenação antecipada, pois o exercício da defesa é um desespero. Foi assim, na velha França, quando o advogado do rei, Malesherbes, disse ao tribunal revolucionário: “– Trago à Convenção a verdade e a minha cabeça. Podeis dispor da última depois de ouvirdes a primeira”. Decapitaram-no.

         Os jornais de hoje, 17 de fevereiro de 2012, trazem fotografias de manifestantes, em Brasília, buscando forçar o Supremo Tribunal Federal, com sucesso aliás, a tomar decisão positiva quanto à chamada “Ficha limpa”. Isso levou eminentes Ministros, lá atrás, a afirmarem que a vontade do povo deveria ser auscultada. Isso é bom e não é. Adolf Hitler, enquanto punha no forno milhões de judeus, acentuava que crime era ofensa ao são sentimento do povo alemão. Veja-se, a respeito, Albert Camus, em “O homem revoltado”. Os assassinos da Ku Klux Klan usavam vestes brancas imaculadas enquanto trucidavam os negros nos Estados Unidos da América do Norte. Era loucura e burrice. Dizem outros que “a voz do povo é a voz de Deus”. Deus, se e quando existindo (Saramago não o admitia), não tem coisa alguma a ver com o apedrejamento de Sakineh. É coisa do demo.

         Deixe-se de lado a multidão, por ora, mas os tresloucados ululando à porta do Tribunal do Júri de Santo André, parentes próximos daqueles outros que apedrejam as mulheres no Irã, deveriam entender que a jovem criminalista Ana Lúcia Assad, com ascendência libanesa, árabe ou síria, desempenhava a sacrificadíssima tarefa de não deixar à deriva, mesmo antecipadamente condenado, um réu culpado ou não, pouco importa, mas precisando de alguém a se antepor ao carrasco. A moça Ana Lúcia Assad, inclusive, deve ter exercitado o contraditório a poder de parcos honorários, se é que algum recebeu. Faz parte do jogo, sendo importante afirmar que a certa altura teve o apoio da própria acusação, constituída por combativa promotora de justiça e dois eminentes criminalistas de São Paulo, realçando-se o advogado Ademar Gomes. Embora reforçando a tese acusatória, tais profissionais souberam abraçar a colega posta sob o apupo dos esfaimados.

        A sorte ou o azar do réu Lindemberg Alves independe de juízo de valor dos cronistas, porque proibidos eticamente de tecer comentários sobre o mérito. Valem aqui, apenas, os parabéns do velho e do jovem criminalistas àquela que desponta, sim, integrando o seleto grupo dos advogados especializados de São Paulo. É preciso dizer que há, nos pretórios criminais da capital e do interior, e mesmo do Brasil inteiro, um pequeno conjunto de profissionais dispostos, ainda, ao combate aberto no tribunal do júri, fazendo-se notar que tais companheiros, independentemente de excelso posicionamento ou discreta dimensão nos foros do agreste, estão entre as melhores personalidades que a advocacia já produziu. Não sabem os cronistas o quanto vale o abraço de dois combativos advogados mas provém, saiba a moça Ana Lúcia Assad, de um decano, ou quase, da advocacia criminal de São Paulo, e de outro valor em ascensão.

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