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Parlamento uruguaio tem dias sangrentos

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Parlamento uruguaio tem dias sangrentos***

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Tramita no senado uruguaio projeto de lei despenalizando o abortamento provocado. Há feministas ferrenhas lutando pelo direito de dispor do produto de seus ventres, porque, no fim das contas, o feto balança ou flutua na membrana que o protege das vicissitudes. Ao mesmo tempo, grupos defensores da vida se esmeram na atividade de pressionar o congresso para rejeição do projeto assassino. O Brasil caminha para conflito assemelhado. A Suprema Corte brasileira já admitiu que o abortamento de feto descerebrado não constitui crime. Já praticamos o chamado abortamento necessário e o resultante de estupro. Há formas sofisticadas de abortamento. Por exemplo, aquelas resultantes do uso da chamada “pílula do dia seguinte” e a aplicação do dispositivo intrauterino, muito popular até uns quatro anos atrás e progressivamente abandonado, porque irritativo da cavidade respectiva. O DIU impede a nidação do ovo, assim chamado o óvulo já fecundado. Num aspecto absolutamente técnico, o desprendimento corresponde a abortamento.  As coisas, já se vê, mudaram bastante. Há bancos de esperma, fecundação “in vitro”, barrigas de aluguel e cheganças outras. Às vezes me pergunto sobre espermatozoide congelado durante duzentos ou mais anos, fecundando uma “Barbarela”**** no século vinte e três. Que acontecimento incrível ou então, encontrar-se maneira de preservar o esperma para o futuro distante, remetendo-o ao espaço, devidamente blindado, dentro de uma nave espacial. Vai daí, uma espécie qualquer de viventes recolhe aquilo na estratosfera, põe o bichinho a se desenvolver e nasce uma criatura assemelhada a minhoquinha pelada. Aliás, já mandaram às galáxias um receptáculo contendo mensagens em cinquenta e poucos idiomas (Voyager 2). O autor do feito, paradoxalmente, foi um sujeito chamado Kurt Walchein, antes oficial nazista do serviço secreto, lá atrás, corresponsável pela chacina de milhares de pessoas.

Volte-se ao Uruguay. Recolhi na rua, quando fui lá, um boleto criticando senadores ditos infanticidas. Depois do Senado, o projeto vai à Câmara dos Deputados, despertando igual batalha. Tais modernismos não fogem a conflitos ideológicos brasileiros. Se admitimos a legalidade da união entre casais do mesmo sexo, a chamada ligação homoafetiva, estamos abertos a discussões sobre formas grotescas de abortamento. É esperar para ver. Por enquanto, serve a experiência advinda do país vizinho. Ponto Final.

 

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

****Barbarela: Filme estrelado por Jane Fonda, quando mocinha.

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