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Entre Fukushima e o Corinthians

Tango na feira de San Telmo

   Paulo Sérgio Leite Fernandes

Quando houve, no Japão, o acidente nuclear gerador da hecatombe noticiada no mundo inteiro, este site fez matéria com efeitos limitados à possibilidade restrita de comunicação. Aquelas ondas gigantescas que deram origem a um dos maiores desastres mundiais, desmantelando-se a usina nuclear japonesa, ficam até hoje na memória do cronista, mas, curiosamente, a lembrança foi redespertada pelo jogo do Corinthians com o Boca Juniors, realizado ontem, 4 de julho de 2012, cujo resultado beneficiou a equipe brasileira. São Paulo, evidentemente, não dormiu, embora muitos precisassem. Faz parte da vida.

Parece absurdo ligar-se Fukushima ao estádio do Pacaembu. Não é não. No meio daquela turba despontava uma bandeira do Japão, pano branco mostrando lua vermelha no centro. Tratava-se de propaganda de alguma efeméride a acontecer lá, daqui a algum tempo. Vai daí, Fukushima ressurge na cabeça.

Bem explicada a relação na livre conjunção de ideias, resta dizer que as usinas nucleares foram reabertas naquele país, em plena segurança, segundo se diz, porque há crise de energia e o medo do vazamento satânico não há de ser responsável pela falta de energia elétrica nos lares japoneses.

Aqui no Brasil, pesquisa posta no sitio eletrônico que abriga esta crônica mostra 65% dos votantes não querendo o término da usina nuclear “Angra III”. Mas 35% querem. O ser humano é muito burro. Ou é meio doido. Há em diversas partes do globo terrestre um sem-número de vulcões ativos, vomitando fogo e fumaça pelas ventas. O tsunami e a lava podem formar casal. O cidadão monta seu lar junto às encostas, gera filhos entre aquelas nuvens escuras, cria porcos, galinhas e bichos outros. Ditos animais inferiores avisam antecipadamente o despertar diabólico. Os moradores apenas olham para cima e pensam: o tempo vai mudar. É bom levar guarda-chuva.

Parece disputa safada entre a vida e a morte. Tem sua aura de romantismo. No final de contas, pouca gente consegue passar para o outro lado, se houver, esquentando-se no ventre fervente de um vulcão. É diferente e dá noticia no “Estadão”. Explique-se: nem sempre se pode achar título em caixa alta noticiando esquartejamento de alguém, porra! Os herdeiros do enchurrascado poderão dizer, orgulhosos, que o avô foi purificado pelas chamas, como um viking. Dá samba. Tem o samba do crioulo doido. Faça-se o batuque do vulcão ensandecido. Antônio da Silva Jardim era advogado. Foi visitar o Vesúvio. Todo mundo sabe que morreu lá dentro. Pode ter sido o destino de muito criminalista na época da ditadura. O Vesúvio destruiu Pompéia. Uma roleta. Quem fugiu para um lado, safou-se. Quem foi para o outro morreu calcinado. Ainda existem por lá, desenterradas de sete ou dez metros de cinzas, as paredes de um prostíbulo. Ali, provavelmente, não havia dorminhoco. Alguns, contritos, conseguiram escapar. A alternativa era morrer pelado no mar. Não houve quem contasse a historia do depois, ficava difícil explicar em casa. Aliás, eu trouxe um calhau perdido num dos atalhos daquela cidade. Guardo em algum lugar, também, restinho de ladrilho de cerâmica recolhido do chão próximo a um dos confessionários da velha catedral de Nápoles. Tratava-se de concavidade criada por milhões de joelhos de pecadores. Eles, ali, sussurravam seus segredos aos velhos sacerdotes da inquisição, pensando ser originais e não sabendo que não há pecado original. Todos já foram praticados na rotina multimilenar das nossas imperfeições.

Perceba-se que o cronista, num exercício intelectual simples, reúne o futebol que não o deixou dormir, o desastre ecológico japonês, a imbecilidade da raça humana, os vulcões resfolegantes regurgitando lavas mefistofélicas e, no fim de tudo, Dilma a Presidente, mais a imprensa, pois delas depende o amadurecimento ou não do veneno radioativo responsável pelas perebas latejando nas entranhas de Angra dos Reis. Não se esqueça do Emerson. O apelido é “Sheik”. Soltou cachorro sobre a mídia brasileira em geral, aquela mesma que há meses lhe fazia acusações injustas de comprometimento com a criminalidade organizada. Devia cuspir nos jornalistas, para aprenderem a refletir sobre injúrias. Emerson, hoje, é santo milagreiro à maneira do cavaleiro árabe salvando a honra da donzela, nas mil e uma noites. Para não se perder o centro do ideário, volte-se ao povo, à cerveja estocada na barriga dos torcedores e ao circo. Viva o Corinthians.

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