O juiz que cerceava
Roberto Delmanto
O juiz criminal, embora culto, era dos mais duros.
Gostava de cercear a defesa, principalmente quando representada por advogados mais jovens ou menos experientes.
Assim, quando da inquirição de testemunhas, ao dar a palavra ao defensor, com voz intimidadora, já ia logo perguntando: “O senhor tem alguma pergunta?” A palavra “alguma” era dita em tom mais incisivo…
Quando o advogado a fazia, ela era em geral considerada impertinente e indeferida.
Mesmo se deferida e respondida pela testemunha a primeira indagação da defesa, ele perguntava ao defensor, em tom ainda mais constrangedor: “Mais alguma pergunta”?
Se o advogado ousasse fazer nova indagação, o indeferimento era quase certo. E da terceira pergunta não se passava.
Na verdade, o magistrado não considerava o defensor imprescindível à administração da justiça; ele próprio se achava auto-suficiente.
Costumava se gabar da intimidação que conseguia causar em muitos advogados. Referindo-se ao meu pai, contudo, não podia deixar de reconhecer: “Mas com o Dr. Dante não adianta. Ele já vem com a lista de perguntas pronta e não desiste até fazer todas elas. E não há como indeferi-las, pois são sempre absolutamente pertinentes”…