* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Ministra é assediada sexualmente na Assembleia***

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Com tal título, revista brasileira editada semanalmente obtém maior vendagem porque os leitores entenderam que o incidente teria ocorrido no Brasil. Mas não foi. Aconteceu em Paris, quando a Ministra da Habitação, Cécile Duflot, se apresentou para discorrer na Assembléia Nacional sobre as atividades da sua pasta. A ministra usava um vestido com flores azuis, muito elegante, na medida em que as mulheres francesas, além de usarem o perfume “Arpège”, costumam caprichar no vestuário. Cuidava-se, é certo, de roupa muito leve, flutuante, pois é verão por lá. Acontece que os parlamentares, a vista da ministra na Tribuna, começaram a assobiar, elogiando-a à moda machista, provocando a interferência do presidente da assembleia. A ministra não se perturbou, advertindo os parlamentares, principalmente os homens no sentido de se conterem.

O incidente teria acelerado a tramitação de nova lei punindo assédio sexual, consistindo em “impor palavras ou ações com conotação sexual a alguém, afetando a dignidade de uma pessoa de forma degradante ou humilhante”. Há outras hipóteses.

Deixe-se de lado qualquer consideração jurídica sobre o assunto. Procure-se aspecto mais leve. As mulheres, aqui e lá, são extremamente sedutoras, mas hoje têm qualificação idêntica à dos homens, aguentando pancadas e devolvendo da mesma forma. Vale a lembrança das judocas lutando nas Olimpíadas. Aquilo é uma parada…

Fique-se no “Arpège”. Perfumistas do mundo inteiro têm procurado fórmula especial para assimilar tais essências ao odor exalado por uma glândula existente no corpo de animais almiscarados. Pouquíssimos conseguem chegar perto. Cuidando-se ainda do “Arpège”, não exportado para o Brasil, parece conter perfume perecido. Francesas de alta estirpe, europeias bem postas e algumas brasileiras de alto bordo usam “Arpège”, trazido de lá, é claro,em pequenos e caríssimosfrascos. A ministra Cécile Duflot, com grande probabilidade perfumava a Assembléia suavemente. Daí a reação dos homens, desnaturada é certo, pois assobios e exclamações, no Brasil ou na França, podem constituir crime mas, dependendo da dimensão ou da elegância, constituem carinho. Há quem goste.

Uma das telas mais impressionantes que o cronista já viu representa uma nobre veneziana (ou Fiorentina?) com animalzinho no colo. Não é gato, cão ou bichinho outro facilmente identificável. Parece arminho. Ou seria uma subespécie do Almíscar? O quadro é de Leonardo da Vinci. Quem souber, ou tiver, no meio desta vida feérica, possibilidade de pesquisar, pode identificar o bichinho doméstico. Por enquanto, resta o “Arpège” soprado pela brisa parisiense e misturado numa saudade esquisita.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.