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O juiz religioso

Roberto Delmanto

O juiz criminal paulistano era um condenador implacável, do qual quase nenhum acusado escapava.

Certa feita, em uma audiência de julgamento, meu pai Dante, que defendia o réu, foi lhe entregar um memorial que resumia sua defesa. O magistrado disse que não costumava ler as razões dos advogados, ao que meu pai lhe retrucou que cada um cumpria o seu dever de acordo com a sua consciência.

Determinado advogado, entretanto, acabou descobrindo o “ponto fraco” do juiz: ele, tão rigoroso, era religiosíssimo, ia à missa e comungava todos os dias. Adorava a convivência com os padres e jamais lhes recusava qualquer pedido.

A notícia se espalhou e, quando um processo caía na sua Vara, a primeira coisa que os advogados perguntavam a seus clientes era se eles conheciam algum sarcedote; se fosse um monsenhor, bispo ou arcebispo, melhor ainda…

Por pior que fosse a acusação, havendo o pedido de um sacerdote, a absolvição era garantida.

Em uma ocasião, caiu em sua Vara um processo gravíssimo, em que um padre, diretor de um orfanato, era acusado de seviciar os internos. Apesar das provas contundentes contra ele, o juiz fêz de tudo para ajudá-lo nas audiências e, ao final, acabou por absolvê-lo.

Só que, dessa vez, o Promotor apelou e o Tribunal de Justiça reformou sua absurda decisão, impondo ao padre torturador uma rigorosa e merecida punição, para desalento do juiz religioso…

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