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As notas promissórias

Roberto Delmanto

No “Caso Collor”, em que defendi o Secretário-Geral da Presidência Cláudio Vieira, uma das questões mais polêmicas foi a chamada “Operação Uruguai”, empréstimo tomado no país vizinho que justificava a maior parte dos gastos pessoais do ex-Presidente.

A C.P.I. do Senado Federal obteve um parecer de renomado perito grafotécnico, que, examinando um xerox da operação, concluiu pela sua falsidade.

Como as perícias em xerocópias não são cientificamente seguras, submeti o original, que estava em meu poder, a três dos maiores “experts” brasileiros: Prof. Lívio Gomide, Paulo Argimiro da Silveira e Tito Lívio Ferreira Gomide, os dois primeiros já falecidos.

Os três peritos, fazendo uma análise da evolução da assinatura do meu cliente, da juventude à idade madura, concluiram, com segurança, que a firma aposta no documento era contemporânea à época deste, dando por sua autenticidade.

Todavia, como “santo de casa não faz milagre” e a causa era predominantemente política, optei por não entregar o original da operação à C.P.I. antes de consultar o maior perito europeu da atualidade, o francês Alain Buquet.

Enquanto me preparava para ir à França, levando o documento, corria o risco da C.P.I. ou da Polícia Federal obter um mandado judicial de busca e apreensão.

Por isso, preferi colocar o original em um lugar seguro. Disse à minha sogra Lourdes, então com 81 anos de idade, que tinha algumas notas promissórias de clientes e pedi que as guardasse, tendo ela escondido o envelope que lhe confiei em um fundo falso de seu antigo apartamento, juntamente com suas jóias.

Só o apanhei quando estava indo com minha mulher para o aeroporto. Em Paris, o Dr. Buquet, após minucioso exame do documento, concluiu que ele era autêntico, confirmando, assim, o parecer dos peritos brasileiros que eu havia consultado.

Só então apresentei o original da operação, junto com ambos os pareceres, ao Supremo Tribunal Federal que, ao absolver meu cliente, por unanimidade, de todas as acusações que lhe foram feitas, aceitou-o como verdadeiro.

Minha sogra somente tempos depois veio a saber que, involuntariamente, tivera participação importante naquele que foi, até hoje, o maior processo criminal de nosso país.

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