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Juízes federais se insubordinam

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Juízes federais se insubordinam***

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Juízes federais, intranquilos quanto à estagnação de vencimentos, pretendem vantagens já admitidas no Ministério Público Federal e reclamam, igualmente, contra a falta de respeito demonstrada, hoje, pela sociedade em relação à magistratura. Quanto à primeira reivindicação, magistrados precisam realmente ganhar o suficiente para dedicarem a vida à distribuição do direito. Um juiz pressionado por mensalidades escolares dos filhos ou pagamento de aluguéis, planos de saúde e financiamentos bancários, precisa esforçar-se muito para manter-se estável enquanto preside audiências ou escreve decisões. Pode, é claro, dar aulas de direito nas múltiplas universidades existentes no país, mas as instituições pagam pouco, inflacionando salários somente se o professor é suficientemente importante para enobrecer, no MEC, o corpo docente. Além disso, saltitando de uma a outra instituição de ensino, o magistrado tem óbvio dispêndio de energias, sobrecarregando-se então a tarefa de sentenciar. Tocante ao segundo aspecto, ou seja, a zanga contra certa dose de desrespeito advinda da comunidade ao redor, é preciso notar que a própria magistratura, enquanto expõe abertamente as feridas abertas na blindagem da toga, cooperou a tanto, abrindo desabridamente os portões de seus sacrários. Atenda-se, no entre-meio, à cooperação do STF, mostrando suas quezilas e os conflitos entre um e outro ministro. Sempre achei que juiz e padre pertencem, de certa forma, à mesma família. É preciso haver certa dose de mistério, ou de recato, porque o pajé, o pai-de-santo, o capitão do mato e o jogador de futebol diferenciado não podem exibir-se despudoradamente. Um perde suas mandingas, o padre tem reduzido o valor de suas indulgências, o feiticeiro é submetido ao ridículo na tribo e o fazedor de gols é exposto à coletividade até mesmo nas intimidades da vida do casal. Dentro do contexto, os juízes precisam ser melhor providos, é certo, mas devem reaprender a arte da discrição. É o conselho de um sobrevivente. Portanto, assumam parte grande da responsabilidade pelo debridamento da toga.

* Advogado criminalista em São Paulo há mais de cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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