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Armas de fogo na América do Norte

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Armas de fogo na América do Norte***

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Em 1999, os Estados Unidos da América do Norte foram sacudidos por tragédia inusitada quando a escola Columbine se encheu de sangue inocente. Dois malucos, adolescentes embora, mataram e feriram dezenas de crianças. A hecatombe assombrou o mundo. Não vale a pena redescrevê-la. Aliás, pelas mesmas razões escritas naquele tempo, não é bom relembrar o drama. Havia, entretanto, algumas predições: não se devia dar muita importância àquilo, porque o ser humano imita o bem e o mal – muito mais o mal que o bem. Aconteceu de novo várias vezes, não só naquela nação, mas também em outros países. O Brasil não ficou fora. O Rio de Janeiro, pouco tempo atrás, precisou passar por aquilo (Realengo). Reinstala-se, agora, o debate crônico na América do Norte. Devem ou não os americanos, fundados na 5ª emenda, manter a facilidade concedida à aquisição e porte de armas de fogo? Os americanos têm, respeitando ao assunto, uma fortíssima associação. Se a memória não falha, foi presidida por Charlton Heston. Um presidente de associação de armas precisa gostar delas. Ele sempre apreciou de papéis heroicos, mas era o mocinho (Ben-Hur). Americano do norte gosta de revólver como de picolé. Defende o direito de poder defender-se. Diga-se que a mãe do atirador, no último episódio, tinha armas em casa e ensinava os filhos a atirar. Acontece que aquilo estimula a matança, a ponto de o próprio Obama, prudentemente, ter fugido ao assunto na recente campanha à Presidência. Dentro do contexto, o Brasil se põe à frente. Armas de fogo têm parte com o demo.

Quando Gustave Flaubert escreveu Madame Bovary, houve na Europa, depois, um caudal de comportamentos imitativos da loucura da personagem central. A mente humana, repleta de fatores complicativos, funciona às vezes assim. Há outros exemplos, mas a discrição impede cogitações do estilo.

As campanhas brasileiras pelo desarmamento têm produzido resultados palpáveis, embora não muito significativos. Os homens bons atendem aos apelos. Evidentemente, bandidos não o fazem, pois a pistola, para o meliante, é a caneta do escriba. Vale o esforço da cidadania. No fim das contas, o Brasil é um excelente fabricante e vendedor de armas de pequeno calibre. Exporta-as para o mundo inteiro. Surge, então, um raciocínio canibalesco: matamos menos aqui e muito mais lá fora. Que coisa esquisita! Ponto Final.

* Advogado criminalista em São Paulo há mais de cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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