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Comissão da Verdade Paulista se reúne numa herança da ditadura

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Comissão da Verdade Paulista se reúne numa herança da ditadura***

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Começa-se a recordar hoje, com mais assiduidade, o que aconteceu no Brasil ao tempo da ditadura inaugurada em 1964. Aquela época só pode ser trazida autenticamente ao presente por aqueles que sobreviveram ou por outros que de uma forma ou de outra intervieram no conflito politicoideológico vigendo nos anos seguintes, desovando tudo na chamada “abertura” e, depois, na constituinte. Vale a pena, agora, sucinto comentário sobre uma ou outra particularidade. O cronista tem seu pedaço na história toda, pequeno, é claro, porque colheu dramas e tragédias enquanto advogado criminal, defendendo alguns estudantes perseguidos pelo regime. As defesas era feitas costumeiramente na auditoria de guerra, em prédio situado na avenida Brigadeiro Luís Antônio, um edifício que já era antigo à época. Surge a notícia de que a diretoria da OAB paulista, em concurso com Mário Sérgio Duarte Garcia, presidente da Comissão da Verdade instalada na Instituição, teriam obtido o uso daquele casario para o funcionamento dos atos, audiências e atribuições outras da Comissão da Verdade. Se assim é, muito bom é que o seja, porque as reuniões da Comissão da Verdade, fazendo-se naquele recinto, servirão para equilibrar o muito sacrifício imposto a advogados e acusados de infrações penais ajuizadas para o retempero da força do Estado-Acusação. A Comissão da Verdade da Seccional paulista da OAB pretende ir a fundo na apuração daqueles fatos terríveis cujas consequências se projetaram no próprio reequilíbrio futuro da democracia brasileira.

Se o prédio a ser usado pela Comissão da Verdade da OAB de São Paulo for aquele mesmo dentro do qual ressoavam o grito da família dos processados e o soluço daqueles que não conseguiam, embora tentassem, localizar parentes sumidos, a visitação pelos advogados caracterizará uma espécie de invasão branca, lembrando a todos que o passado precisa ser revivido, para que se conheça aquele que fez o bem e se castigue aquele que mal se compôs.

* Advogado criminalista em São Paulo há mais de cinquenta e dois anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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