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A Comissão da Verdade e a ditadura

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Hoje, 19 de março de 2013, ex-marido da Presidente da República declarou que a FIESP teria, nos idos da ditadura militar, cooperado com a tortura em geral e torturadores em particular. É preciso entender o que aconteceu naquele tempo satânico. Na verdade, à época de João Goulart, o Brasil ia muito mal. Havia turbilhonamento de sério conflito ideológico. Para se ter pequena ideia do ambiente, o funcionamento da Justiça, em Santos, foi interrompido pois membros do chamado Fórum Sindical de Debates invadiram as salas de audiência e puseram todos para fora. Aquilo, em princípio, provocou adesão ao exército quando, em 1° de abril do fatídico ano de 1964, houve o golpe cujas consequências todo mundo conhece, eclodindo o processo, anos depois, na abertura paulatina, na Constituinte e na chamada redemocratização plena, circunstância ainda a duvidar, porque o vencedor tem sempre razão, fantasiando-se hoje, entre outros absurdos, no império da tributação desenfreada.

Naquele contexto, no começo, até mesmo os advogados pensavam que o autoritarismo era saneador. Vieram a reagir a partir do momento em que o aprisionamento de renitentes e a tortura se transformaram em rotina. O poder, diga-se, é extremamente sedutor. É comum, mesmo nos chamados animais inferiores, o acasalamento da matilha junto às lideranças. O bicho-homem não é diferente. Vale o comentário, inclusive, para o Ministério Público, sabendo-se que a instituição, nos albores da ditadura, serviu nas chamadas comissões gerais de investigação. Faz parte do jogo. Dentro de tal ideário, surpresa alguma causaria constatação da cooperação da FIESP na luta anticomunista, fechando-se os olhos, ali, quiçá, à extremação dos exageros no pinçamento da carne dos seviciados. O passado contém estradas vicinais cujo percurso só pode ser feito com extrema dose de lealdade, limpando-se a sujeira deixada no corpo dos viventes ou no sudário dos defuntos. Assim, a denominada “Comissão da Verdade” (uma só criatura com várias ramificações) precisa abrir os negros reposteiros dos anos de chumbo, mas não pode visualizar pundonorosamente alguns escaninhos empoeirados. Em outros termos, ou tudo ou nada, não se podendo hesitar na chegança a destinações perdidas nas tumbas dos cemitérios. Eis uma tarefa extremamente difícil, pois os mortos precisam, também, de um ou outro cavaleiro do apocalipse para defendê-los. Surge, assim, diapasão muito abstruso, principalmente na Comissão da Verdade instituída pela OAB paulista. Ali, na instrução das diversas denúncias, deve haver investigado vivo (Será?) e muito defunto. Quem se animará a defender os fantasmas?

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