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John Wayne, os índios Terena, José Eduardo Martins Cardozo e Gurgel

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Quando o cronista era menino, adorava filmes com John Wayne, James Stewart e Kirk Douglas. Havia uma cena, no entremeio, chamando especialmente a atenção do moleque: Kirk e Burt (o Lancaster) estavam lutando com os Comanches. Kirk (o mau), toma uma flechada no peito. Burt o arrasta sob a proteção de uma rocha e lhe pergunta o que quer. Kirk responde: “– A shot of whisky and a hay cigarette”. Burt cumpre os dois últimos desejos. Kirk aspira fundo a fumaça do cigarro de palha, sorve a bebida forte oferecida num cantil providencial, dá um suspiro derradeiro (sempre há um suspiro último, até na disputa da semifinal feminina de Roland Garros) e morre heroicamente.

A fonte de inspiração do velho faroeste é a reunião do Ministro da Justiça, engravatado, com os índios Terena, a partir de Sidrolândia (Mato Grosso do Sul). Um silvícola morreu baleado. Deve ter sido encomendado aos espíritos, no meio de uma dança fúnebre. Isso lembra, quase dez anos atrás, episódio assemelhado acontecido no meio da cidade de São Paulo. Para quem não sabe, há uma aldeia indígena em Parelheiros. Um advogado paulista foi visitar terras de um cliente. Precisava atravessar em território indígena. Vai daí, apareceu um cacique munido de pesada borduna, rodeado por seguranças portando arco e flecha, tudo entremeado em cantos de guerra: “– ôôôôôô…”. O Ministério Público Federal estava de tocaia, representado por jovens procuradoras da República. O advogado foi preso por violação de domicílio. Uma tragicomédia. O colega, nervosíssimo, visado pelas setas, vomitou dentro da viatura da Polícia Federal. A exculpação demorou três anos. Foi uma guerra judicial. Ao ser algemado, o causídico viu o pajé falando num celular de última geração.

Lá em Sidrolândia houve pior e diferente: o cocar indígena se tingiu de sangue. Mais tarde, os naturais, conduzidos pela FAB, chegaram em Brasília. Xingaram a mãe de todo mundo. Querem a demarcação definitiva de suas terras. No fim das contas, Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil. As terras já tinham dono quando chegaram portugueses, franceses, holandeses e espanhóis, origem, muitos deles, das magníficas mamelucas de olhos verdes e azuis pontificando no Nordeste. Pensando bem, índio não quer apito. Reivindica o que é seu. E Cardozo que se cuide. Melhor, nas próximas reuniões, ir sem gravata e aceitar um colar de contas coloridas. Pode montar um cavalo alazão e usar botas, mais chapéu de caubói. Fica regional e engalana, no futuro, a parede da sala de consultas no escritório. Havendo complicação, chamem a Presidente. Aprende fácil a dançar na “Oheokoti”. Já passou por coisa pior. Que o diga o furibundo Coronel Ustra. Tocante ao Procurador-Geral da República, ofereçam-lhe um chocalho. Pode bater o compasso. Ele merece. Trabalhou bastante o assunto.

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