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Inhambu da Amazônia

Roberto Delmanto

Esta história foi contada pelo eminente advogado criminal carioca Técio Lins e Silva, no último mês de setembro, em palestra que proferiu durante o VI Encontro Brasileiro dos Advogados Criminalistas, realizado pela ABRACRIM em Curitiba.

Lembrou Técio, a figura de Humberto Teles, um dos grandes criminalistas do Rio de Janeiro na segunda metade do século passado, que brilhou sobretudo no Tribunal do Júri, onde atuava incansavelmente quase todas as semanas.

De origem nortista, tinha cabeça grande e chata, e era considerado um homem muito feio.

Orador notável, quando, entretanto, assumia a tribuna da defesa nos julgamentos populares e começava a falar, como que por um milagre, transformava-se para os que o assistiam em um homem esplendoroso e belo.

Em certo júri, o promotor, em sua oração, alertou os jurados para que não se deixassem envolver pela oratória de Humberto Teles, pois ele era conhecido como “a cotovia do Norte”, ave que se caracteriza pelo lindo canto e vôo ondulante; os machos elevam-se até 100 metros ou mais, onde descrevem círculos e continuam a cantar. Deviam, portanto, se ater apenas à prova dos autos para bem decidir.

Ao lhe ser dada a palavra, o famoso defensor assim iniciou sua fala: “Eu não sou a cotovia; sou o inhambu da Amazônia, cinzento, feio e carrapento “.

Ganhou a simpatia dos jurados e, com sua formidável oratória, mais um júri. Era mesmo “a cotovia” …

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