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Haddad, você me deve 247 Faculdades de Direito

Paulo Sérgio Leite Fernandes

Faz no mínimo 45 anos, obsessivamente, quero saber o que acontece nas alfombras do Ministério da Educação, antes da Educação e Cultura. Cheguei a enumerar todos os Ministros que por lá passaram, a partir de Jarbas Passarinho, o iniciador da desmoralização dos cursos de Direito no país. Não se diga, portanto, que minha insubordinação é episódica, ou oportunista. Xingo todos eles há quase meio século, independentemente dos partidos políticos a segurá-los no cargo. Não se tente afirmar, então, que tenho preferências ideológicas. Para mim, a chamada opção partidária não significa coisa alguma. Nunca fui militante ou proselitista. O único incidente grave que tive na vida, em matéria de eleições, foi numa delas em que resolvi ser adequado, correto e obediente aos regulamentos, recebendo instruções no dia anterior ao plebiscito e levando a urna para casa, a fim de estar a postos no dia seguinte, porque fazia parte da mesa receptora de votos. Numa das coisas do destino, tinha dois carros idênticos. Peguei o automóvel errado e minha mulher levou a urna para a feira, no porta-malas. Uma desgraça tragicômica, por certo, pois o juiz eleitoral quis me esculhambar na frente da fila de um quarteirão, obtendo uma resposta ríspida: “– Briga comigo lá dentro, ou vamos rolar na calçada na frente do povão!”.

Vale a digressão para dizer que não tenho simpatias ou antipatias pelo prefeito de São Paulo. Tem cara e jeito de bom moço, na luta contra a corrupção. Entretanto, da mesma forma que solicitei aos outros e mesmo à OAB, à qual dediquei no mínimo 40 anos de vida, quero saber porque autorizou o funcionamento de, aproximadamente, 247 Faculdades de Direito no país, tudo isso no meio de uma objeção morna da Corporação, mais silêncio comedido do Ministério Público Federal, reptado abertamente por mim a ver o que havia, sem segredo ou discrição qualquer. Você, moço, deve isso a mim ao menos, se a outros não dever. Segundo a religião católica, rito no qual fui educado, nascemos todos do pecado original, livrando-nos pelo batismo e purgando as faltas na confissão. Tenho os meus, hoje claramente admitidos, se necessário for, porque a velhice traz recato, mas baila com uma certa dose de insensatez. Isso vem bem expresso nas lições rotundas dos filósofos, a partir da Grécia Antiga, mas é retratado com muita picardia por Edu Lobo e Chico Buarque (não esquecer do primeiro): “Confessando bem / Todo mundo faz pecado / Logo assim que a missa termina / Todo mundo tem o primeiro namorado / Só a bailarina é que não tem / Sujo atrás da orelha / Bigode de groselha / Calcinha um pouco velha / Ela não tem”. Enfim, procurando bem, todo mundo tem pereba, só a bailarina é que não tem. Dentro do contexto, jovem ex-Ministro da Educação, pela última vez, você e os outros expliquem o que fizeram, por que fizeram, qual a razão de não terem parado e por que não o impediram, quando desafiados a tanto, até com rudeza, em se tratando de uma nobilíssima Instituição como o é o Ministério Público Federal. E não me venha com a história de ser uma invectiva oportunista. Faço isso há meio século. E não vou parar com você. Parece que Mercadante fez um staccato, agora que o cadeado já foi arrombado. Ele e o Presidente da OAB. Quanto a este, também a destempo, está pagando o pecado dos outros, ou fechando os buracos deixados pela inação. Ver-se-á. Digam.

* Crônica originalmente publicada no CONJUR em 13/11/2013

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