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O juiz justo

 O  juiz justo

                                                                                       Roberto Delmanto

 Eu era adolescente e havia ido à missa dominical com meu pai Dante.

Na saída, ele ofereceu condução a um senhor idoso, bem vestido e educado que morava nas proximidades da igreja, o qual me foi apresentado como um Juiz criminal aposentado.

No trajeto o ex-Magistrado só falou de Deus, da Virgem Maria, de santos e anjos, e, sobretudo, de caridade.

Quando o deixamos na casa dele, comentei com meu pai que nunca havia visto uma pessoa tão religiosa.

Meu pai, para minha surpresa, me disse que ele, ao tempo em que estava em atividade, era considerado o mais condenador de todos os juízes criminais, um Magistrado verdadeiramente implacável, de quem quase nenhum acusado escapava. Daí, porque recebera, nos corredores do Fórum, o apelido de “X., o louco”.

E me relatou um curioso episódio: certo advogado, estando um seu cliente para ser interrogado pelo Dr. X., preveniu-o para que se mantivesse firme na negativa da acusação, não se deixando intimidar pelo Juiz.

Contou-lhe, inclusive, qual o seu apelido.

No dia do interrogatório, o aviso dado pelo defensor surtiu efeito contrário, mostrando-se o acusado excessivamente nervoso.

Percebendo o fato, o Dr. X. disse ao réu que poderia ficar calmo, pois ele era um Magistrado muito compreensivo e humano, tendo até um apelido no Fórum Criminal.

E, a certa altura, falou ao acusado: “O seu advogado deve ter-lhe contado o meu apelido. O senhor pode dizê-lo sem receio”.

O réu mostrou-se indeciso e olhou para o defensor, que ficou lívido.

O Juiz insistiu: “Pode dizer, não tenha medo”.

O advogado, que começara a suar frio, olhou feio para o acusado, que acabou ficando calado.

Foi aí que o Magistrado, placidamente, para estupefação dos presentes que tiveram de conter o riso, falou: “Então eu mesmo vou dizer meu apelido: é ‘X., o justo’ ”.

Mais do que o réu, quem respirou fundo e aliviado, foi seu defensor…

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