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Ditador da Coreia do Norte regula corte de cabelos (E corta também pescoços)

* Paulo Sérgio Leite Fernandes
**Gustavo Bayer
Ditador da Coreia do Norte regula corte de cabelos (E corta também pescoços)***

Kim Jong-un, ditador maluco da Coreia do Norte, não se contentou em cortar, no sentido figurado, o pescoço do tio. Agora exige que universitários de sexo masculino cortem o cabelo como os dele. As alunas, de seu lado, precisam imitar a cabeleira da mulher do ditador, Ri Sol-ju. Tal obrigação, há algum tempo, já é posta sobre controle das autoridades. Os homens podiam variar em dez alternativas. Quanto as mulheres, as possibilidades seriam dezoito. Tocante aos estudantes, a imitação é obrigatória.

Aquilo lá vai mal. Mais dia menos dia, o ditador perde a cabeleira numa esquina. A notícia chega ao Brasil com uma nota tragicômica. Seria só risível se os antecedentes de Kim Jong-un não fossem tão violentos e ruins. Em fins de 2013, mandou matar o tio Jang Song-thaek, número dois no poder e mentor de Kim. Em agosto do mesmo ano, mandou executar a Hyon Song-wol, integrante da Orquestra Nacional, mais onze músicos, por participação em filmes de sexo explícito. O moço, portanto, precisa ser obedecido na Coreia do Norte, pois o enfretamento pode resultar, também, na inflição de pena capital quanto a corte de cabelo diferente do preconizado.

Feliz terra brasileira, em que a juventude podia e pode, se quiser, imitar inclusive o velho corte de cabelo de Neymar, hoje muito mais comportado porque obedece ao padrão vigente no time espanhol onde pontifica (Barcelona). Na verdade, Neymar já usou, inclusive, o “moicano” com variações, havendo por aí, ainda hoje, centenas de jogadores de futebol fazendo o mesmo, embora já ultrapassado o estilo. A repressão, aqui, é diferente. A ditadura advém da luta contra a corrupção, extremada sim, mas nunca chegando à degola física. A pena, ou castigo, é imposta à semelhança parcial das Ordenações do Reino: Deixa-se o condenado nu, ou seja, desprovido de qualquer dinheiro lícita ou ilicitamente auferido, salgando-se-lhe o solo enquanto os bens são apreendidos ou bloqueados. As apreensões incluem automóveis de luxo, barcos suntuosos e aviões. Parte deles vai para a Polícia Federal. Às vezes – raramente – os acusados são absolvidos. Evidentemente, há devolução dos itens, mas é bom que os proprietários não se aventurem a viajar nas aeronaves, nem trafegar com os automóveis recuperados. Aquilo volta sem revisão e é eficientemente usado, no meio do caminho, em diligências continuas. Diga-se, em abono da legitimidade da investigação, que o avião que transportou os mensaleiros à Brasília tinha cinquenta lugares e era alocado legalmente à Polícia Federal, vindo, segundo consta, de aquisição feita pelo Ministério da Justiça em 2009.

Voltando-se ao miolo da crônica, basta dizer que os réus perdem seus bens, têm o solo misturado em sal grosso para que ali nada possa florir mas, felizmente, salvam o cabelos, se não der na cabeça de algum diretor de presídio e determinar uniformidade na tonsura. Menos mal.

* Advogado criminalista em São Paulo há cinquenta e quatro anos.

** Áudio e vídeo

*** O texto é de única e absoluta responsabilidade do autor Paulo Sérgio Leite Fernandes. O intérprete Gustavo Bayer é apenas o ator.

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